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Manuela Vaz Velho |
Daqueles com quem não estamos todos os dias, mas que sabemos
que contam connosco e nós com eles. Conheci-o em 1989 em minha casa, na
Ribeira, como convidado do então meu marido, colegas que eram no O Primeiro de Janeiro. Voltei a encontrá-lo uns anos depois, a ele à
sua companheira, e falaram-me do caril que tínhamos comido nesse dia. Volvidos
mais alguns anos, e já sem essa companheira e eu com outra companhia,
encontrávamo-nos regularmente num ou outro jantar em casa de um amigo ou no
Saicão onde comia quase todos os dias, por ser perto do seu local de trabalho,
no seu caso, e no meu por ser barato pois com esta crise jantar fora custa.
O seu ar descuidado e a sua aparente solidão, porque amigos
tinha-os e muitos, dava vontade de o proteger, mas rapidamente nos apercebíamos
que quem nos protegia era ele. A sua atenção e sensibilidade para com os que
lhe eram caros, e a sua clarividência, mesmo em momentos toldados, que nos
fazia sentir transparentes sobretudo quando civilizadamente pretendíamos estar
felizes, mas escondíamos uma sombra, era surpreendente. Estás bem? Perguntou-me
algumas vezes. Estou, respondia eu civilizadamente.
Foi um privilégio ter conhecido e partilhado momentos da
minha vida com o Zé Gomes.