Miguel Mota |
Enquanto
as fábricas não forem capazes de produzir alfaces sintéticas ou bifes
sintéticos, toda a Agricultura é “biológica”! Os produtos da agricultura, sejam vegetais ou animais, são sempre
seres biológicos. Se a aplicação de alguns compostos de síntese faz com que uma
planta ou um animal deixem de ser biológicos, teríamos como consequência que
uma pessoa que tivesse tomado uma aspirina já não seria um ser biológico!
A
característica fundamental de todos os seres biológicos é possuírem um código
genético. Durante muitos anos, desde que em 1866 Gregor Mendel publicou o seu
famoso trabalho de uns 9 anos com o qual descobriu os fundamentos da
hereditariedade e após 1900, quando foi trazido à luz esse escrito – pois tinha
sido ignorado durante 34 anos – realizaram-se muitos trabalhos sobre Genética, aprendeu-se imenso
sobre os genes, como actuavam e onde estavam, mas não se sabia o que eram e
qual o mecanismo do seu funcionamento ao nível molecular. Em 1944 foi
descoberto que os genes eram DNA (o ácido desoxibonucleico, da sigla
internacionalizada) mas o mecanismo do seu funcionamento continuou
desconhecido. Conhecia-se há muito a composição química do DNA, mas não como
estava arquitetada a molécula. Isso foi descoberto em 1953 por James Watson (um
americano, ainda vivo) e Francis Crick, um inglês falecido há poucos anos.
Verificou-se, então, com esse conhecimento, que o mecanismo de funcionamento,
nas suas linhas gerais, é muito simples, embora em pormenor seja bastante
complexo. O DNA é uma cadeia muito comprida, mas muitíssimo estreita. Uma
molécula do DNA humano tem cerca de 1,70 m, empacotada dentro de cada célula do
organismo. Graças a um conjunto de apenas 4 peças, repetidas muitíssimas vezes
e em variadas combinações, comanda toda a hereditariedade de qualquer organismo
biológico tal como o antigo código Morse escrevia tudo o que se quisesse,
apenas com uma sequência de pontos e traços.
A
designação de "agricultura biológica" é usada na Europa por alguns
países (entre os quais Portugal) que não devem ter reparado no ridículo dessa
designação. Alguns outros, como a Inglaterra e os Estados Unidos, usam o nome,
também errado, de "agricultura orgânica" e “produtos orgânicos”. É
óbvio que uma couve, cultivada num solo que foi fertilizado com sulfato de
amónio, não passou a ser mineral. Continua a ser orgânica.
Um nome
mais aceitável será "agricultura ecológica", usado nalguns países
europeus, como a Espanha, já que esse tipo de agricultura se aproxima mais das
condições ecológicas da natureza. Muitas vezes lembrei aos meus alunos que fazer
agricultura é orientar a ecologia - algo que está em constante mutação - no
sentido que mais interessa ao homem, não apenas no momento presente, mas
preservando e melhorando as condições que permitam uma agricultura saudável e
sustentada, que assegure o bom futuro das gerações vindouras.
Seria bom
que Portugal corrigisse esse erro generalizado, para não dar a ideia de que os
portugueses não sabem o que é um ser biológico.