24/05/2013

O ridículo nome de "agricultura biológica"

Miguel Mota
      Não vou discutir a metodologia do que chamam "agricultura biológica". Aliás, uma parte desses princípios ensinei-os, durante anos, aos alunos dos cursos de engenharia agronómica, pois constituem normas gerais a aplicar em qualquer agricultura. Não discuto, mesmo, alguns aspectos de exageros, apenas lembrando que, se a investigação agronómica não tivesse tido o desenvolvimento que teve, grande parte da população do mundo já teria morrido de fome. As carências e a fome que existem em vários pontos do globo são apenas o resultado da acção de maus políticos, como mostrei numa conferência realizada há muitos anos. Quero apenas chamar a atenção para o ridículo nome de "agricultura biológica" muito divulgado entre nós.

Enquanto as fábricas não forem capazes de produzir alfaces sintéticas ou bifes sintéticos, toda a Agricultura é “biológica”! Os produtos da agricultura, sejam vegetais ou animais, são sempre seres biológicos. Se a aplicação de alguns compostos de síntese faz com que uma planta ou um animal deixem de ser biológicos, teríamos como consequência que uma pessoa que tivesse tomado uma aspirina já não seria um ser biológico!

A característica fundamental de todos os seres biológicos é possuírem um código genético. Durante muitos anos, desde que em 1866 Gregor Mendel publicou o seu famoso trabalho de uns 9 anos com o qual descobriu os fundamentos da hereditariedade e após 1900, quando foi trazido à luz esse escrito – pois tinha sido ignorado durante 34 anos – realizaram-se muitos  trabalhos sobre Genética, aprendeu-se imenso sobre os genes, como actuavam e onde estavam, mas não se sabia o que eram e qual o mecanismo do seu funcionamento ao nível molecular. Em 1944 foi descoberto que os genes eram DNA (o ácido desoxibonucleico, da sigla internacionalizada) mas o mecanismo do seu funcionamento continuou desconhecido. Conhecia-se há muito a composição química do DNA, mas não como estava arquitetada a molécula. Isso foi descoberto em 1953 por James Watson (um americano, ainda vivo) e Francis Crick, um inglês falecido há poucos anos. Verificou-se, então, com esse conhecimento, que o mecanismo de funcionamento, nas suas linhas gerais, é muito simples, embora em pormenor seja bastante complexo. O DNA é uma cadeia muito comprida, mas muitíssimo estreita. Uma molécula do DNA humano tem cerca de 1,70 m, empacotada dentro de cada célula do organismo. Graças a um conjunto de apenas 4 peças, repetidas muitíssimas vezes e em variadas combinações, comanda toda a hereditariedade de qualquer organismo biológico tal como o antigo código Morse escrevia tudo o que se quisesse, apenas com uma sequência de pontos e traços.

A designação de "agricultura biológica" é usada na Europa por alguns países (entre os quais Portugal) que não devem ter reparado no ridículo dessa designação. Alguns outros, como a Inglaterra e os Estados Unidos, usam o nome, também errado, de "agricultura orgânica" e “produtos orgânicos”. É óbvio que uma couve, cultivada num solo que foi fertilizado com sulfato de amónio, não passou a ser mineral. Continua a ser orgânica.

Um nome mais aceitável será "agricultura ecológica", usado nalguns países europeus, como a Espanha, já que esse tipo de agricultura se aproxima mais das condições ecológicas da natureza. Muitas vezes lembrei aos meus alunos que fazer agricultura é orientar a ecologia - algo que está em constante mutação - no sentido que mais interessa ao homem, não apenas no momento presente, mas preservando e melhorando as condições que permitam uma agricultura saudável e sustentada, que assegure o bom futuro das gerações vindouras.

Seria bom que Portugal corrigisse esse erro generalizado, para não dar a ideia de que os portugueses não sabem o que é um ser biológico.