23/06/2012

Reactivar a agricultura


  Ouvi num programa de rádio que numa região, Alvaiázere, creio, tinham "redescoberto" a cultura do chícharo (com o nome botânico de Lathyrus sativus), que se dava muito bem  nessa zona de solos calcários e estava a proporcionar bons lucros aos agricultores.
Em tempos muito cultivada, essa espécie quase desaparecera. Mas que tem interesse parece evidente e no referido programa dizia-se que a oferta ainda estava a ser inferior à procura. Parece-me este caso um bom exemplo do que pode ser feito pela economia portuguesa, nalguns casos, como este, voltando a usar culturas que tinham sido negligenciadas.

Tenho na minha frente a publicação intitulada "A cultura do chícharo". É um folheto de 36 páginas, da autoria do Engenheiro Agrónomo J. Mira Galvão, que foi durante muitos anos Chefe da Brigada Técnica da XIV Região Agrícola, com sede em Beja, onde fez uma obra notável no desenvolvimento da agricultura. Tem a data de 1942 (há 70 anos...) e foi uma das muitas publicações editadas nessa altura pelo ministério, como parte da Campanha da Produção Agrícola e que eram amplamente divulgados - como oferta - pelos agricultores do país. Documentado com magníficos desenhos do autor, contem valiosos ensinamentos sobre a cultura dessa planta.  É um bom exemplo do que há a fazer, nas tarefas da extensão rural, para levar aos agricultores alguns dos conhecimentos de que eles carecem para melhorar a sua exploração. Produzindo mais e ganhando mais dinheiro, dão excelente contribuição para evitar as dispendiosas e desnecessárias importações de produtos agrícolas que tanto pesam na nossa balança comercial.

Mesmo correndo o risco de me repetir, não posso deixar de lembrar que uma grande parte da responsabilidade do estado desgraçado em que lançaram a nossa agricultura nas últimas décadas se deve à destruição do que havia - e era insuficiente - da investigação agronómica (a fonte da tão necessária inovação) e da extensão rural, do Ministério da Agricultura. Essa destruição atingiu o máximo de intensidade com o governo Sócrates (que chegou ao cúmulo de devolver a Bruxelas centenas de milhões de euros destinados à agricultura) e só foi travada pela actual ministra.

Também com o mesmo risco de me repetir, não posso deixar de lembrar que não conheço outra forma de conseguir recuperar no mais curto prazo possível esse sector da economia senão implementando o Plano Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Rural que há muito proponho. Para obtenção de efeitos a curto prazo, é da  extensão que podemos esperar os melhores resultados. Que seja do meu conhecimento, não foi ainda iniciado esse Plano - pelo menos como eu o visualizo - e ele podia ter já sido iniciado no verão de 2011, mesmo apenas com a "prata da casa" pois, no estado em que puseram as finanças do país, parece não haver dinheiro disponível para o que mais interessa aliás, neste caso, um magnífico investimento, como em variados artigos tive ocasião de mostrar. Iniciando o trabalho da extensão com hortícolas e forrageiras, seria possível conseguir significativos resultados económicos muito brevemente, resultados de que o país desesperadamente necessita.

Miguel Mota