Ouvi num programa de rádio que
numa região, Alvaiázere, creio, tinham "redescoberto" a cultura do
chícharo (com o nome botânico de Lathyrus
sativus), que se dava muito bem nessa zona de solos calcários e estava a
proporcionar bons lucros aos agricultores.
Em tempos muito cultivada, essa espécie
quase desaparecera. Mas que tem interesse parece evidente e no referido
programa dizia-se que a oferta ainda estava a ser inferior à procura. Parece-me
este caso um bom exemplo do que pode ser feito pela economia portuguesa,
nalguns casos, como este, voltando a usar culturas que tinham sido
negligenciadas.
Tenho na minha frente a publicação
intitulada "A cultura do chícharo". É um folheto de 36 páginas, da
autoria do Engenheiro Agrónomo J. Mira Galvão, que foi durante muitos anos
Chefe da Brigada Técnica da XIV Região Agrícola, com sede em Beja, onde fez uma
obra notável no desenvolvimento da agricultura. Tem a data de 1942 (há 70
anos...) e foi uma das muitas publicações editadas nessa altura pelo
ministério, como parte da Campanha da Produção Agrícola e que eram amplamente
divulgados - como oferta - pelos agricultores do país. Documentado com
magníficos desenhos do autor, contem valiosos ensinamentos sobre a cultura
dessa planta. É um bom exemplo do que há
a fazer, nas tarefas da extensão rural, para levar aos agricultores alguns dos
conhecimentos de que eles carecem para melhorar a sua exploração. Produzindo
mais e ganhando mais dinheiro, dão excelente contribuição para evitar as
dispendiosas e desnecessárias importações de produtos agrícolas que tanto pesam
na nossa balança comercial.
Mesmo correndo o risco de me
repetir, não posso deixar de lembrar que uma grande parte da responsabilidade
do estado desgraçado em que lançaram a nossa agricultura nas últimas décadas se
deve à destruição do que havia - e era insuficiente - da investigação
agronómica (a fonte da tão necessária inovação) e da extensão rural, do
Ministério da Agricultura. Essa destruição atingiu o máximo de intensidade com
o governo Sócrates (que chegou ao cúmulo de devolver a Bruxelas centenas de
milhões de euros destinados à agricultura) e só foi travada pela actual
ministra.
Também com o mesmo risco de me
repetir, não posso deixar de lembrar que não conheço outra forma de conseguir
recuperar no mais curto prazo possível esse sector da economia senão
implementando o Plano Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Rural
que há muito proponho. Para obtenção de efeitos a curto prazo, é da extensão que podemos esperar os melhores
resultados. Que seja do meu conhecimento, não foi ainda iniciado esse Plano -
pelo menos como eu o visualizo - e ele podia ter já sido iniciado no verão de
2011, mesmo apenas com a "prata da casa" pois, no estado em que
puseram as finanças do país, parece não haver dinheiro disponível para o que
mais interessa aliás, neste caso, um magnífico investimento, como em variados
artigos tive ocasião de mostrar. Iniciando o trabalho da extensão com
hortícolas e forrageiras, seria possível conseguir significativos resultados
económicos muito brevemente, resultados de que o país desesperadamente
necessita.
Miguel Mota