António Barreto: a independência do pensamento passeou no
CdP
Confesso que admiro António Barreto há muito, sobretudo pela
clareza e invejável independência de pensamento com que sempre se manifestou.
Liberto de espartilhos, simboliza na verdade o que Portugal menos tem na sua
classe política e não só.
Foi pois este homem que Joaquim Jorge convidou para
alinhavar umas quantas ideias sobre os grandes temas, ou grandes questões do
nosso tempo, como diria Edgar Morin, e que encheu e deliciou uma plateia de
gente atenta em sorver o pensamento livre e desempoeirado de António Barreto.
Após uma longa e cuidada apresentação do convidado, à guisa
de homenagem, JJ extraiu parte de um belo discurso recente para compor o
retrato de um artista amante da fotografia, história, filosofia, política e
geografia. António Barreto começou por dizer que “ficou assustado” ao ler num
jornal os variadíssimos temas a que se dedicaria na noite do CdP. Não passou de
uma adivinhação jornalística. Na verdade iniciou com uma pequena intervenção
sobre a Fundação a que preside, a Manuel Ferreira dos Santos, enumerando os
importantes ensaios e estudos em curso, como fontes de informação a
disponibilizar ao cidadão a modestos preços.
Pretende encontrar palco para debater os vários temas em
estudo, eventualmente em locais similares ao CdP, como forma de levar
informação ao maior número de pessoas.
Salientou que a informação produz conhecimento e é essa a chave
do sucesso das nações, que a sua Fundação também quer propiciar em Portugal.
Está preocupado com o que está a acontecer em Portugal, que
vive, segundo crê, a sua pior fase dos últimos 70 anos. Os governos nos últimos
10 anos, sonegaram informação, condicionando ou enganando as pessoas que
pretendiam organizar e planear a sua vida, sem informação credível. Pensa que o
que tem existido é comunicação e não informação, divulgada por agências de
comunicação, que não têm alma. Vive-se o tempo do “esteve” e dos anúncios de
medidas. Não há discussão dos temas com a sociedade civil, seja sindicatos,
professores, empresários, médicos, etc. Os governos ignoram a sociedade civil.
António Barreto, no entanto, identificou algumas coisas que
correm bem a este governo, como a aplicação do programa da troika sem roturas
sociais graves (pelo menos não vislumbra que haja), as exportações, que nada
têm a ver com medidas tomadas pelo governo, mas fruto da iniciativa
empresarial; Mas há coisas gravíssimas, como o desemprego galopante e de longa
duração e de jovens. Apesar da forte austeridade, não há redução da despesa.
Não há planos e projetos que vaticinem e deem sinais à sociedade que se caminha
numa direção e rumo bem definidos. Há atrasos nas grandes reformas estruturais
e administrativas. A justiça é o pior que há em Portugal, cujos vícios se
alastram a toda a sociedade.
Os portugueses não sabem que direitos têm, e por isso,
deixam-se enredar nos pequenos favores e compadrios que se amplifica na
sociedade e na política.
Este governo tomou medidas a esmo, sem seletividade, que
seria aconselhável. Foi bater em muitos o mais depressa que pode e ao mesmo
tempo.
AB salientou que a Escola, a Boa Escola, é a chave, pois é a
mais importante instituição numa sociedade evoluída, democrática e livre.
Disse, também, que o Cdp é um caso de sucesso, não apenas pelo nome, mas pelo
que já fez e que gostaria que Portugal “fosse isto”, plural, a discutir e
debater os grandes temas do nosso tempo.
Excelente serão, a saber a pouco, mas António Barreto
prometeu voltar. Parabéns Joaquim Jorge, acertaste na “mosca”.
*novo AO