18/02/2012

Como sair da crise?


Não sei. E estou ao mesmo nível dos nossos governantes, dos dirigentes da UE e de todos os sábios que debitam receitas como as pitonisas nos oráculos gregos.
Basta lermos os artigos ou as entrevistas dos ditos especialistas para ter a certeza que anda toda a gente a largar “bitaites” sobre o assunto. Há muito que tenho dito e escrito, que os economistas e os políticos (que determinam o rumo económico) na verdade não sabem como lidar com a globalização. Porque ela veio com uma liberalização descontrolada e a desregulamentação dos mercados financeiros.
Esta crise é de regime e nela é a Europa quase toda, os EUA e Japão que estão no mesmo barco. Todos beberam as mesmas ideias fundamentalistas vindas da América, da máxima virtude dos mercados. Um liberalismo exacerbado abençoado por Thatcher e Reagan, com a liturgia de Milton Freedman e seguidores, dos quais muitos amantes cá pelo burgo.

Portugal recebeu muito dinheiro da UE para se modernizar e depois teve acesso a fundos para continuar, mas não foi cauteloso e competente a fazer as contas. Veio a fatura e não há rendimento suficiente para liquidar as prestações. Coisa que deveria ter sido acautelada por quem governa.

O Estado inchou e transformou-se num paquiderme onde todos os cabides de emprego, a nível central e local, tinham guarida assegurada pelos caciques políticos. No entanto, a missão e objetivos perseguidos pelo Estado não aumentaram, tal como a eficácia e eficiência também não. Só aumentaram exponencialmente as despesas. Os impostos quase que só servem para alimentar esta gigantesca máquina empedernida e gorda.

Com falta de dinheiro e em risco de bancarrota, a ajuda financeira era a única saída e com ela um programa troikiano que todos conhecemos e que está a agravar cada vez mais a vida dos portugueses. O governo diz-se determinado, “custe o que custar”, a cumprir tão amarga receita. Está a fazê-lo sob os cadáveres dos portugueses. O desemprego galopante de cerca de 15% da população ativa é apenas a gritante face desta tragédia grega, que está acompanhada de total desesperança. Por todo o lado sente-se que o povo deitou a toalha ao chão.

Portugal está prostrado à espera de D. Sebastião.

Porém, o que chega são más notícias todos os dias. Mais impostos e quando não são impostos, são confiscos salariais e cortes, fechamento de serviços, cortes e cortes.

Repito, não sei como se sai da crise, mas sei como não se sai dela: sem crescimento económico e sem credibilidade e seriedade de quem impõe os sacrifícios.

De facto, quando se impõe uma dieta de matar o paciente e se confisca subsídios aos funcionários públicos, não se pode dar ao luxo de aplicar medidas de exceção de “chico-espertismo” aos amigos. Não se pode deitar nos braços das rançosas máquinas partidárias que impõem tachos a reconhecidos despreparados em conselhos de administração de empresas públicas. Não pode vender empresas estratégicas sem olhar a quem, negociando chorudos salários para Catrogas e Celestiais militantes do partido. Isto mina a confiança, tal como aconteceu com as trapalhadas de Sócrates.
Assim, Dr. Passos Coelho, não saímos da crise. Mergulhamos ainda mais nela. Será a atração pelo abismo? O caminho que trilha não é bom. Não vá por onde lhe dizem. Aprenda com José Régio:

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
……………
Não, não vou por aí!

Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...”

Os passos podem ser de Coelho, respeitando a capacidade resiliente do povo português. Os ajustes necessários e profundos têm de ser feitos, mas têm o seu tempo. Respeite o sacrifício de todos. Não se vergue aos poderosos que pretendem que sejamos cobaias. Não queira ser bom aluno de quem não sabe.

Mário Russo


*escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico