Não sei. E estou ao mesmo nível dos nossos governantes, dos dirigentes da UE e de todos os sábios que debitam receitas como as pitonisas nos oráculos gregos.
Basta lermos os artigos ou as entrevistas dos ditos especialistas para ter a certeza que anda toda a gente a largar “bitaites” sobre o assunto. Há muito que tenho dito e escrito, que os economistas e os políticos (que determinam o rumo económico) na verdade não sabem como lidar com a globalização. Porque ela veio com uma liberalização descontrolada e a desregulamentação dos mercados financeiros.
Esta crise é de regime e nela é a Europa quase toda, os EUA e Japão que estão no mesmo barco. Todos beberam as mesmas ideias fundamentalistas vindas da América, da máxima virtude dos mercados. Um liberalismo exacerbado abençoado por Thatcher e Reagan, com a liturgia de Milton Freedman e seguidores, dos quais muitos amantes cá pelo burgo.
Portugal recebeu muito dinheiro da UE para se modernizar e depois teve acesso a fundos para continuar, mas não foi cauteloso e competente a fazer as contas. Veio a fatura e não há rendimento suficiente para liquidar as prestações. Coisa que deveria ter sido acautelada por quem governa.
O Estado inchou e transformou-se num paquiderme onde todos os cabides de emprego, a nível central e local, tinham guarida assegurada pelos caciques políticos. No entanto, a missão e objetivos perseguidos pelo Estado não aumentaram, tal como a eficácia e eficiência também não. Só aumentaram exponencialmente as despesas. Os impostos quase que só servem para alimentar esta gigantesca máquina empedernida e gorda.
Com falta de dinheiro e em risco de bancarrota, a ajuda financeira era a única saída e com ela um programa troikiano que todos conhecemos e que está a agravar cada vez mais a vida dos portugueses. O governo diz-se determinado, “custe o que custar”, a cumprir tão amarga receita. Está a fazê-lo sob os cadáveres dos portugueses. O desemprego galopante de cerca de 15% da população ativa é apenas a gritante face desta tragédia grega, que está acompanhada de total desesperança. Por todo o lado sente-se que o povo deitou a toalha ao chão.
Portugal está prostrado à espera de D. Sebastião.
Porém, o que chega são más notícias todos os dias. Mais impostos e quando não são impostos, são confiscos salariais e cortes, fechamento de serviços, cortes e cortes.
Repito, não sei como se sai da crise, mas sei como não se sai dela: sem crescimento económico e sem credibilidade e seriedade de quem impõe os sacrifícios.
De facto, quando se impõe uma dieta de matar o paciente e se confisca subsídios aos funcionários públicos, não se pode dar ao luxo de aplicar medidas de exceção de “chico-espertismo” aos amigos. Não se pode deitar nos braços das rançosas máquinas partidárias que impõem tachos a reconhecidos despreparados em conselhos de administração de empresas públicas. Não pode vender empresas estratégicas sem olhar a quem, negociando chorudos salários para Catrogas e Celestiais militantes do partido. Isto mina a confiança, tal como aconteceu com as trapalhadas de Sócrates.
Assim, Dr. Passos Coelho, não saímos da crise. Mergulhamos ainda mais nela. Será a atração pelo abismo? O caminho que trilha não é bom. Não vá por onde lhe dizem. Aprenda com José Régio:
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
……………
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...”
Os passos podem ser de Coelho, respeitando a capacidade resiliente do povo português. Os ajustes necessários e profundos têm de ser feitos, mas têm o seu tempo. Respeite o sacrifício de todos. Não se vergue aos poderosos que pretendem que sejamos cobaias. Não queira ser bom aluno de quem não sabe.
Mário Russo
Basta lermos os artigos ou as entrevistas dos ditos especialistas para ter a certeza que anda toda a gente a largar “bitaites” sobre o assunto. Há muito que tenho dito e escrito, que os economistas e os políticos (que determinam o rumo económico) na verdade não sabem como lidar com a globalização. Porque ela veio com uma liberalização descontrolada e a desregulamentação dos mercados financeiros.
Esta crise é de regime e nela é a Europa quase toda, os EUA e Japão que estão no mesmo barco. Todos beberam as mesmas ideias fundamentalistas vindas da América, da máxima virtude dos mercados. Um liberalismo exacerbado abençoado por Thatcher e Reagan, com a liturgia de Milton Freedman e seguidores, dos quais muitos amantes cá pelo burgo.
Portugal recebeu muito dinheiro da UE para se modernizar e depois teve acesso a fundos para continuar, mas não foi cauteloso e competente a fazer as contas. Veio a fatura e não há rendimento suficiente para liquidar as prestações. Coisa que deveria ter sido acautelada por quem governa.
O Estado inchou e transformou-se num paquiderme onde todos os cabides de emprego, a nível central e local, tinham guarida assegurada pelos caciques políticos. No entanto, a missão e objetivos perseguidos pelo Estado não aumentaram, tal como a eficácia e eficiência também não. Só aumentaram exponencialmente as despesas. Os impostos quase que só servem para alimentar esta gigantesca máquina empedernida e gorda.
Com falta de dinheiro e em risco de bancarrota, a ajuda financeira era a única saída e com ela um programa troikiano que todos conhecemos e que está a agravar cada vez mais a vida dos portugueses. O governo diz-se determinado, “custe o que custar”, a cumprir tão amarga receita. Está a fazê-lo sob os cadáveres dos portugueses. O desemprego galopante de cerca de 15% da população ativa é apenas a gritante face desta tragédia grega, que está acompanhada de total desesperança. Por todo o lado sente-se que o povo deitou a toalha ao chão.
Portugal está prostrado à espera de D. Sebastião.
Porém, o que chega são más notícias todos os dias. Mais impostos e quando não são impostos, são confiscos salariais e cortes, fechamento de serviços, cortes e cortes.
Repito, não sei como se sai da crise, mas sei como não se sai dela: sem crescimento económico e sem credibilidade e seriedade de quem impõe os sacrifícios.
De facto, quando se impõe uma dieta de matar o paciente e se confisca subsídios aos funcionários públicos, não se pode dar ao luxo de aplicar medidas de exceção de “chico-espertismo” aos amigos. Não se pode deitar nos braços das rançosas máquinas partidárias que impõem tachos a reconhecidos despreparados em conselhos de administração de empresas públicas. Não pode vender empresas estratégicas sem olhar a quem, negociando chorudos salários para Catrogas e Celestiais militantes do partido. Isto mina a confiança, tal como aconteceu com as trapalhadas de Sócrates.
Assim, Dr. Passos Coelho, não saímos da crise. Mergulhamos ainda mais nela. Será a atração pelo abismo? O caminho que trilha não é bom. Não vá por onde lhe dizem. Aprenda com José Régio:
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
……………
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...”
Os passos podem ser de Coelho, respeitando a capacidade resiliente do povo português. Os ajustes necessários e profundos têm de ser feitos, mas têm o seu tempo. Respeite o sacrifício de todos. Não se vergue aos poderosos que pretendem que sejamos cobaias. Não queira ser bom aluno de quem não sabe.
Mário Russo
*escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico