26/11/2011

Estratégia PPC para o abismo

Não sei se de facto é de Pedro Passos Coelho ou não, mas sendo o PM de Portugal, chamo-lhe estratégia PPC, a que vem usando desde que iniciou a governação.

É uma estratégia baseada no medo do desconhecido, do gigante Adamastor que a todos vai engolir. Estratégia que deu bons frutos séculos e séculos anteriores e também está a surtir, até agora, diante da ofensiva de cortes salariais, de benefícios sociais e de definhamento da economia e dos portugueses.

Cabe ao governo tomar as decisões a favor do seu povo, que o elegeu e não as ordens de uma troika, por mais que se julgue competente tecnicamente (pese embora eu duvidar).
O medo apoderou-se de tal modo dos portugueses, que aceitam que se lhes retire tudo, porque ainda vão ter a graça de ficar com vida. Neste quadro, PPC e os seus ministros, conseguem silenciar todo um povo, acusado de ser o responsável pelos buracos negros das contas públicas.

A praxis do discurso insensível dos ministros e de PPC, apesar do seu tom educado, é aflitiva, porque trata o povo como bando de malfeitores, gastadores e irresponsáveis que delapidaram a riqueza do reino. Como tal, terão de ser castigados.

A frieza, quase hitleriana, de enviar um condenado para o cadafalso (desemprego e cortes salariais) sem pensar nas consequências das medidas, dá que pensar na fibra de que são feitos esses ministros.

O contínuo depauperamento do país não pode ser o único caminho. E de facto não é. Ou melhor, só é para quem não tem ideias. O que o governo está a fazer, no silêncio confrangedor de um povo anestesiado, é um erro de palmatória, se não for um crime, porque daqui a dois anos não resolveremos o problema da dívida e estaremos mais pobres que hoje e vulneráveis à mercê dos mercados depredadores, que encontrarão em Portugal um maná para tudo adquirirem a preços da banana. O fim de uma independência milenar.

A solução que o governo perfilha cegamente, a mando da troika, é a mesma da Grécia, cujos resultados são o que conhecemos. Porque havemos de ter a ilusão de ser melhor sucedidos?
Pagar o que se deve é questão de honra, mas também é justo que o façamos de acordo com as nossas possibilidades. O tempo para pagar dívidas, muitas delas ilegítimas, tem de ser o parâmetro fundamental da solução. Que nada impede que se implantem as reformas na administração do Estado e na organização administrativa da nação e se redefinam as funções e a missão do Estado e seu dimensionamento. O contrário é caminho certo para o abismo.

Quem achava que a pobreza era purificadora era Salazar, que apregoava que a riqueza dos pobres estaria no céu. Este governo também assim pensa. Não deixa nada para a vida terrena. No entanto, o bom senso aconselha a recuar enquanto é tempo.

Mário Russo

*novo acordo ortográfico