18/11/2010

OS RATOS de PORÃO


Quando um barco começa a meter água ou se declara a bordo um incêndio, os primeiros seres vivos a aperceberem-se do inevitável naufrágio são, como se sabe, os numerosos ratos que, de todos os lados, aparecem espavoridos, de rabo erguido e pêlo eriçado, tentando, debalde, a salvação impossível. Na inconsciência do sei instinto irracional atiram-se como doidos pela borda fora, mergulhando de olhos cegos pelo terror, nas águas frias do oceano. Daí a expressão conhecida e muitas vezes repetida, «Fogem como ratos de porão».
A atitude destes míseros animais traz-nos à mente alguns políticos do Governo que embarcaram num qualquer barco manhosos à cata dum qualquer resto de fatia bolorenta e que ao mais pequeno sinal de alarme – água ou fogo – desembestam como touros cegos e farpeados na arena e lançam-se ao mar, abandonando «armas e bagagens», deixando ao desamparo e ao sabor dos ventos, o timoneiro que os arregimentou e a tripulação fiel e intemerata.
Assim tem sucedido neste pedaço de país que se tem retalhado em tantos farrapos quanto os que estão apostados em comer-lhe os ossos, já que a carne há muito que a devoraram no festim selvagem e inconsciente dos primeiros cheiros «a canela» que a democracia messiânica lhes trouxe de mão beijada.
Assim tem sucedido neste recanto plantado à beira-mar, à medida que o barco da política vai metendo água e o fogo lhes queima a última tábua de salvação.
É vê-los abandonar o barco e, mais ladinos que os seus irmãos irracionais, desaparecem sub-repticiamente da cena fazendo-se esquecidos e ignorados.
Nomeados pra lugares e funções para os quais não possuíam competência, defensores de causas que desconheciam, vendedores ambulante de «banha da cobra», falsos profetas e angariadores de ilusões, exploradores e sugadores de um povo crédulo e intrinsecamente messiânico, esses «ratos da política» de meia tigela, que ainda ontem os víamos de monco ao nariz e fralda borrada,, ao mais pequeno sinal de perigo, fogem espavoridos a esconder-se nas tocas da sua mediocridade, ruminando no fel das suas entranhas, a próxima ocasião de embaraçarem de novo num qualquer barco recauchutado.
Fraldiqueiros e oportunistas, como os ratos de porão, seus irmãos de ofício, vão espreitando pelo buraco das suas ambições, aguardando que a água se escoe ou o fogo se vá extinguindo pouco a pouco.
O pior é que, ratos de porão que são, dificilmente escapam a uma «molhadela» intensa e ao chamusco das traves queimadas, e naufragam e perecem, irremediavelmente na tragédia que ajudaram a fazer.
Ainda bem que assim é. Ainda bem que a água e o fogo, como elementos purificadores, vão separando o trigo do joio, joio que tem destruído este país, mas que mais tarde ou mais cedo, acabará por se estiolar, num auto-aniquilamento que nenhuma «água benta» de presunção os há-de salvar.
Enfim, nesta alegria de ratos e homens, pode ser que os homens se salvem do meio da ratice de alguns que tudo pretendem devorar, ao ponto de chegarem a devorar-se uns aos outros, numa orgia macabra, anunciadora do fim dos tempos (de governação).
Entre ratos e homens, alguém há-de escapar!

Francisco Azevedo Brandão