17/11/2010

OPINIÃO


Nunca se nos tornou tão difícil escrevermos esta coluna, não que faltasse matéria, mas mais pelo melindre da questão que desejamos partilhar.
Este Portugal, que nasceu em 1143 pela mão e espada de Afonso Henriques; que séculos depois se estendeu até ao Algarve e desbravando “mares nunca dantes navegados”, deu novos mundos ao Mundo; que se libertou das” garras” de Castela e soube reencontrar a Liberdade quase no último quartel do século XX, este Portugal, “cantinho à beira-mar plantado”, está a perder as suas últimas virtudes, da credibilidade e da honra.
Não somos nós, modesto e ignorado cidadão, a entrar no último quartel da vida, quem o afirma. São milhões de portugueses, iguais a nós, que o sentem; são alguns – o número vai em crescendo, cada dia que passa - dos “doutores” da política, da economia e das finanças, de todos os quadrantes, incluindo os que estiveram ou estão nas estruturas do partido que nos governa, quem o diz e escreve.
Bastará lerem-se as últimas entrevistas do socialista Henrique Neto ao “Jornal Económico “ , do ainda ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, ao “Expresso”, de António Vitorino e Ana Gomes, ao “Sol”.
E, perante isto, há quem pareça não se perturbar, não se inquietar, não sentir a consciência a dizer-lhe que já basta e que é hora de deixar o poder. O “reino” de Sócrates está no estertor e só ele o não sente. Ele e mais meia dúzia de aliados – alguns que jamais sonhariam ser parceiros da nossa desgraça colectiva – e outros que perdendo todo o pudor querem continuar a cultivar a sua “quinta”, colhendo dela, sem olhar a meios “frutos” que os vão “depositar” em quintas alheias, pois aí estão mais seguros.
Dentro de dias vai ser aprovado na especialidade o nado-morto que é o Orçamento do Estado e, a partir daí, cremos ser chegada a hora de o primeiro-ministro, num último assomo de vergonha, deixar o poder, pois se o não fizer, apagar-se-á a ténue luz de um túnel que cada vez é mas longo e as esperanças de todos e cada um de nós, de um futuro com um mínimo de dignidade esvair-se-á.
Não é isto que desejamos para nós, para os nossos filhos ou para os nossos netos. Não! Já basta de sofrimento e de desgraça.
E é ainda com uma ponta de esperança que o cumprimentamos, com a amizade de sempre.


Manuel Cruz
director do jornal Carvalhos