Mário Russo
A nossa sociedade tem sido fustigada por acontecimentos indecorosos que colocam no olho do furacão um conjunto apreciável de políticos e empresários de alto nível. Talvez não queiramos ficar atrás dos Madoff, na América.
O que mais impressiona é que, como dizia Medina Carreira, só será incomodado quem roube um pão ou um frango, certamente por fome e desespero, como a senhora que foi presente a tribunal por ter roubado um frango. Mas os Jardins Gonçalves, os Isaltinos e tantos outros nem um incómodo se quer.
Agora aparecem evidencias mais que muitas que envolvem vários dirigentes ou influentes militantes do PS, dentre eles Armando Vara, já famoso pela sua licenciatura e ascensão meteórica do Partido para a alta finança, de José Penedos e do seu filho e mais influentes personalidades da nossa praça. Já antes António Preto, Dias Loureiro, Oliveira e Costa, todos do PSD, também protagonizam um filme de aventuras.
Joaquim Jorge escreve com indignação que a culpa mais uma vez morrerá solteira. A anestesia que se sente na sociedade, onde não há lugar à indignação, de facto nada de bom indicia e muito questiona.
“O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carácter, nem dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons”. Dizia Martin Luther King há muito tempo, e continua a ser tão actual.
Mas se recuar um pouco mais, dizia Ruy Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, O homem chega a desanimar-se da virtude, a rir da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
De facto não avançamos muito. Continuamos a ser uns bárbaros, embora de Ferrari.
Do outro lado deste lodaçal um episódio que nunca teve relevo devido, fácil de se perceber, foi protagonizado por Ramalho Eanes, então PR, que promulgou um diploma feito propositadamente para o atingir directamente na sua legítima reforma de militar, ao impedir que a acumulasse com o vencimento de PR. De facto os Tribunais deram-lhe razão passados 14 anos e a verba retroactiva que tinha direito (1 milhão e 300 mil euros) recusou-a. O jornalista Fernando Da Costa dizia, sobre este episódio, que “num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados”.
Dá vontade de ir mesmo para outro país. JJ gostaria de ir para algum país nórdico. Eu também tenho vontade de ir para um lugar em que não me enganem, por exemplo para o Ruanda, porque lá eu sei que é mesmo difícil viver, que há tribalismo, que pode ser-se roubado, assassinado, etc. Mas não somos enganados.
Aqui até parece um país civilizado, mas de facto é mal frequentado e assim vai continuar, porque a Justiça cá está para os defender da sociedade, que é afinal a malfeitora.