08/04/2008

OPINIÃO

Caro Joaquim Jorge, caro Carvalho da Silva, caros Participantes na vida do Clube dos Pensadores.


Tratando-se hoje de discernir sobre aquele que tem sido o tema de fundo da minha carreira profissional, as Relações de Trabalho, não pude deixar de decidir trazer, pelo menos a este público, a minha forma de ver a questão, para mais num momento como o actual, para além de deixar uma pergunta ao convidado, cuja resposta, pública ou privada, muito agradeço, desde já.
1. Os Meus Pressupostos:
Nascido em 1956, tinha 17 anos (adolescência, irreverência, pôr tudo em causa) quando se deu o 25 de Abril. Licenciado em Filosofia, em 1980, tenho trabalhado, desde 1983, na Direcção de Recursos Humanos de Empresas. Tenho que confessar, desde já, que não gosto desta designação: a minha empresa pessoal, adopta a designação ‘Desenvolvimento de Pessoas e Empresas’, porque, aquela outra designação tem por base a ideia, que considero errada, de que as Pessoas são, para as empresas, um recurso, como qualquer ferramenta descartável.
A primeira empresa em que colaborei, nacional, empregava mais de 1000 trabalhadores, que, ao longo dos anos, pela introdução de um clima de participação e confiança, se foram transformando em colaboradores, promoveu em mim a noção clara de que TODOS, nas empresas, são, de facto, donos da empresa – só é preciso dar-lhes as ferramentas certas para se envolverem positivamente com as coisas do dia-a-dia, para obtermos enormes ganhos de produtividade, de intervenção positiva no desenvolvimento da empresa, que culminam na enorme satisfação pessoal, todos os dias da semana, a qualquer hora do dia, porque, uma vez sentindo-se patrões de si próprios, são-no em todas as vertentes da sua vida: no trabalho, em família, na comunidade em que vivem, nos seus hobbies. E não carecem da intervenção de nenhuma instituição de defesa que lhes seja exterior, como o são os sindicatos.
Aquilo que ali fizemos, porque fomos todos a fazê-lo, aconteceu porque ninguém estava CONTRA nada: estávamos, isso sim, empenhados a favor da Empresa enquanto empreendimento participado por todos.
O patrão, porque era, de facto, uma empresa de patrão, tinha apenas a 3ª classe, e, na sua juventude, tinha trabalhado no campo, de onde saía para distribuir jornais, no fim do que ia apanhar o comboio para o Porto para trabalhar como encadernador por conta de outrem. Um dia, percebeu que o gestor da vida dele era ele mesmo, e, por acidente, criou uma Empresa, primeiro só com um ajudante, 10 anos depois já com 50 empregados, 20 anos depois com 150, e, a partir dos finais dos anos 60, com cerca de 1000. A empresa ainda vive, hoje dirigida (e tenho o cuidado de não dizer liderada) por uma filha daquele patrão.
O que tudo isto serve para ilustrar é a minha convicção de que, na sua maioria, os patrões de hoje, foram empregados ontem, ou trabalhadores, ou colaboradores a quem não ouviam.~
Na segunda empresa, uma multinacional americana, que actua em quatro grandes áreas de negócio, e que iniciava os seus investimentos em Portugal, em Nelas, com uma empresa de componentes para o sector automóvel, constatei rigorosamente o mesmo que na primeira quanto à facilidade de transformar os trabalhadores em donos de si próprios, ou seja, em colaboradores, não havendo, aqui, a figura de um patrão que sugerisse aquela postura, pela sua história pessoal.


continua


Luís Cochofel