11/04/2008

Opinião ( continuação )

Em Maio de 1993, esta empresa recebeu, a partir da sua sede europeia, uma sentença de morte: ou se produzia, em 1 dia útil, uma quantidade ‘impossível’ de peças, ou a fábrica fechava: nenhum dos colaboradores aceitou tal sentença, mas, ao contrário de o demonstrar fazendo greve, empenharam-se na tentativa de atingir o impossível, trabalhando durante 3 noites, o tal dia útil, um sábado e a manhã de um domingo e conseguiram realizá-lo. No ano passado, tornaram a dar-me a certeza de que as noções que ajudei a criar ficaram com eles. A empresa decidiu encerrar a exploração em Portugal e, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, numa outra multinacional do sector na Azambuja, decidiram não fazer greve, mas, antes, demonstrar a sua própria dignidade, trabalhando até ao fim. Resultado? Viram aumentado o valor das suas indemnizações, e chamaram a atenção de outra multinacional, pela sua atitude, conseguindo novos empregos e minimizar o efeito do encerramento da unidade que, demonstraram-no, foi um sucesso devido a eles.
A terceira empresa, também criada de raiz, nasceu de um projecto pessoal, meu, e, apesar de a minha sociedade com capitalistas não ter corrido como eu esperava (desta vez, eram capitalistas, não empreendedores), sinto que aquilo que passei aos meus colaboradores mantém a empresa como líder do seu sector, viva e fiel aos princípios ‘o que falha são as pessoas, não as empresas’, e ‘o meu mundo depende da minha intervenção, que tem que ser positiva’.
Desde aí, tenho colaborado, fundamentalmente, como consultor de organização e desenvolvimento de pessoas e empresas, e, posso dizê-lo, todas as empresas por que passei adoptaram atitudes de envolvimento que inibiu criação de momentos de fricção, de luta, inibindo, assim, a presença de sindicatos, por desnecessários.
1. A Minha Leitura, do mundo das Relações de Trabalho
De uma análise do que foi a minha vida nas empresas, não pode resultar outra coisa senão:
· A constatação de que as pessoas, em Portugal, gostam de trabalhar, sempre que isso signifique participar no desenvolvimento das empresas, sejam ouvidas nas questões práticas, se sintam gente.
· As pessoas só se preocupam com ‘garantias dos trabalhadores’ quando, por falta de comunicação interna de objectivos e da visão da empresa, não estão envolvidos com o projecto a que vendem, ou alugam, as suas horas de trabalho, mas não a sua vontade de fazer parte.
· Da mesma forma que se comportam os ‘Patrões’, têm-se comportado os sindicatos: ignorando o que o outro quer, de facto, mas não soube comunicar, criam movimentos CONTRA… Contra seja o que for, desde que a sua voz se ouça, por parte daqueles que dizem defender. E o que é que isto provoca? Luta! O que significa que, no fim desta, uma parte vai GANHAR, e a outra vai PERDER. Perguntaria: pode um País ganhar, quando, no seu seio, uma parte dos agentes económicos ganha e outra, seguramente significativa em número e importância, perde? Respondo eu, como responderá seja quem for de bom senso: Não! E repare-se que, quando se cria uma empresa, se diz e se sente que se está a formar uma equipa: numa equipa todos ganham ou todos perdem, ou, então não houve equipa.
· Acredito, 25 anos depois de ter começado, que é possível fazer com que as empresas sejam equipas, não importa por quantas pessoas e de que extractos sociais se formem, e os exemplos que vivi comprovam-no.

· Da mesma forma olho para o País: Não encontro um único Inteiro ‘Por Portugal’. Encontro Partidos, que defendem ideias importadas, algumas com mais de um século, que criaram instrumentos com uma função específica, muitas vezes louvável à partida, como seja o de ajudar a tratar a Regulamentação do Trabalho, mas que acabam como factores criadores de lutas, ao defenderem obstinadamente a filosofia política que lhes deu berço, em vez de perceberem a necessidade de entender os vários pontos de vista que qualquer discussão suscita e procurar pontos de consenso que sejam provocadores de desenvolvimento e já não da manutenção de seja o que for.


Luís Cochofel