Maria Teresa Goulão
Na passada segunda feira no debate sobre ambiente, tive oportunidade de referir que as questões ambientais têm perdido peso na agenda da comunicação social.
Hoje, o Jornal de Noticias traz um artigo, “Ameaças ambientais são vistas de forma pouco aprofundada”, que mostra justamente o que eu disse atrás.
Ainda a este propósito recomendo a consulta destes livros e sites , para aqueles que gostam deste tema:
· Luísa Schmidt, Ambiente no Ecrã.Emissões e Demissões no Serviço Público Televisivo, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003, 465 páginas. A autora escreve , Em que circunstâncias podem ou devem ser — ou são — os media não só «espelhos» e «janelas», mas também a própria luz que permite aos seus públicos e audiências ver o que o Estado e mesmo as restantes elites ainda não vêem?
· Anabela Carvalho - Mudanças climáticas, organizações ambientais e a imprensa britânica: uma análise do poder de perspectivação.
· O Instituto de Ciências Sociais (ICS) desenvolve o projecto Ecoline (http://ecoline.ics.ul.pt) um site inédito que contém uma base de dados com cerca de 11.700 artigos editados ao longo do século XX e 1800 notícias transmitidas pela RTP entre 1957 e 2000, além de textos temáticos, estatísticas e inquéritos.
· Estrela Serrano..” Para um estudo do jornalismo em Portugal, 1976-2001 - Padrões jornalísticos na cobertura de eleições presidenciais"-
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Jornal de Noticias de Segunda-feira, 26 de Novembro de 2007
Ameaças ambientais são vistas de forma pouco aprofundada Denisa Sousa
Analisado o discurso mediático em vários "momentos críticos" no âmbito das alterações climáticas, em dois jornais diários, uma revista, um semanário e nos quatro canais portugueses, um grupo de investigadores das universidades do Minho e de Aveiro conseguiu traçar fragilidades no enfoque dado aos acontecimentos e, do ponto de vista das fontes, perceber alguma falta de profundidade na abordagem da problemática, que pode conduzir ao relativizar das ameaças ambientais, por parte da sociedade.
"Se, de um ponto de vista global, se considera que um discurso catastrófico não resulta, porque pode potenciar um sentimento de inevitabilidade, o oposto pode também não funcionar. O Governo, por exemplo, tem muita tendência para falar do problema como algo externo e não como uma causa própria", considera Anabela Carvalho, uma das autoras do estudo e organizadora da Conferência Internacional subordinada ao tema "Comunnicating Climate Change", que ontem terminou na UM.
A equipa escolheu os anos em que se realizaram Painéis Intergovernamentais para as Alterações Climáticas (IPCC), bem como acontecimentos nacionais, como a onda de calor de 2003, entre outros, para analisar a cobertura dos media nessas fases. "Aquilo que designamos de diário de qualidade publicou muito mais artigos do que o jornal diário popular, sendo que aquele primeiro disponibilizou também mais artigos contendo análises aprofundadas ao tema", revelou.No que toca ao tom do discurso, embora a revista semanal e o jornal "popular", por vezes abordem os assuntos de forma "alarmista", o enfoque predominante é de optimismo. Curiosa é a forma como os jornalistas analisam o seu trabalho nesta área, "assumindo, entre outras condicionantes, falta de conhecimento sobre as alterações climáticas, que os impede de fazer trabalhos cruzando vários prismas", acrescentou Anabela Carvalho.
Os investigadores constataram ainda que as notícias televisivas se centram, sobretudo, na reprodução dos discursos oficiais do Governo, enquanto os cientistas se focam essencialmente "na adaptação do homem às alterações climáticas e não na sua mitigação". Ainda assim, a docente aponta como principal conclusão da conferência a importância de os media "não deixarem cair a questão da agenda e, se possível, reforçá-la a nível local, onde se pode mudar atitudes mostrando à comunidade como fazer a diferença, adoptando medidas ambientais", sublinha. "Os vizinhos também actuam por imitação de boas práticas", crê, dando como exemplo a reciclagem ou o uso recorrente de transportes alternativos.
Incidindo nos mesmos quatro órgãos de comunicação em suporte escrito, o investigador da Universidade do Minho, Rui Ramos, liderou um estudo paralelo, que resultou em dados algo distintos aos apresentados por Anabela Carvalho, sobretudo "por se ter reportado a um ano em concreto", esclareceu o autor. Depois de analisados o número de artigos sobre alterações climáticas/ambiente, de Janeiro a Dezembro de 2006, conclui-se que a cobertura do fenómeno foi "objecto de cobertura relevante", com 248 artigos publicados. Não havendo, entre eles, diferenças substanciais na quantidade de textos, chamou-se a atenção, por exemplo, para a ausência de artigos de opinião na revista. A nível global, predominou o discurso directo, "para conferir credibilidade" e os textos opinativos não foram nunca assinados por jornalistas, que preferiram "esconder- -se atrás dos factos e das fontes".
Na passada segunda feira no debate sobre ambiente, tive oportunidade de referir que as questões ambientais têm perdido peso na agenda da comunicação social.
Hoje, o Jornal de Noticias traz um artigo, “Ameaças ambientais são vistas de forma pouco aprofundada”, que mostra justamente o que eu disse atrás.
Ainda a este propósito recomendo a consulta destes livros e sites , para aqueles que gostam deste tema:
· Luísa Schmidt, Ambiente no Ecrã.Emissões e Demissões no Serviço Público Televisivo, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003, 465 páginas. A autora escreve , Em que circunstâncias podem ou devem ser — ou são — os media não só «espelhos» e «janelas», mas também a própria luz que permite aos seus públicos e audiências ver o que o Estado e mesmo as restantes elites ainda não vêem?
· Anabela Carvalho - Mudanças climáticas, organizações ambientais e a imprensa britânica: uma análise do poder de perspectivação.
· O Instituto de Ciências Sociais (ICS) desenvolve o projecto Ecoline (http://ecoline.ics.ul.pt) um site inédito que contém uma base de dados com cerca de 11.700 artigos editados ao longo do século XX e 1800 notícias transmitidas pela RTP entre 1957 e 2000, além de textos temáticos, estatísticas e inquéritos.
· Estrela Serrano..” Para um estudo do jornalismo em Portugal, 1976-2001 - Padrões jornalísticos na cobertura de eleições presidenciais"-
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Jornal de Noticias de Segunda-feira, 26 de Novembro de 2007
Ameaças ambientais são vistas de forma pouco aprofundada Denisa Sousa
Analisado o discurso mediático em vários "momentos críticos" no âmbito das alterações climáticas, em dois jornais diários, uma revista, um semanário e nos quatro canais portugueses, um grupo de investigadores das universidades do Minho e de Aveiro conseguiu traçar fragilidades no enfoque dado aos acontecimentos e, do ponto de vista das fontes, perceber alguma falta de profundidade na abordagem da problemática, que pode conduzir ao relativizar das ameaças ambientais, por parte da sociedade.
"Se, de um ponto de vista global, se considera que um discurso catastrófico não resulta, porque pode potenciar um sentimento de inevitabilidade, o oposto pode também não funcionar. O Governo, por exemplo, tem muita tendência para falar do problema como algo externo e não como uma causa própria", considera Anabela Carvalho, uma das autoras do estudo e organizadora da Conferência Internacional subordinada ao tema "Comunnicating Climate Change", que ontem terminou na UM.
A equipa escolheu os anos em que se realizaram Painéis Intergovernamentais para as Alterações Climáticas (IPCC), bem como acontecimentos nacionais, como a onda de calor de 2003, entre outros, para analisar a cobertura dos media nessas fases. "Aquilo que designamos de diário de qualidade publicou muito mais artigos do que o jornal diário popular, sendo que aquele primeiro disponibilizou também mais artigos contendo análises aprofundadas ao tema", revelou.No que toca ao tom do discurso, embora a revista semanal e o jornal "popular", por vezes abordem os assuntos de forma "alarmista", o enfoque predominante é de optimismo. Curiosa é a forma como os jornalistas analisam o seu trabalho nesta área, "assumindo, entre outras condicionantes, falta de conhecimento sobre as alterações climáticas, que os impede de fazer trabalhos cruzando vários prismas", acrescentou Anabela Carvalho.
Os investigadores constataram ainda que as notícias televisivas se centram, sobretudo, na reprodução dos discursos oficiais do Governo, enquanto os cientistas se focam essencialmente "na adaptação do homem às alterações climáticas e não na sua mitigação". Ainda assim, a docente aponta como principal conclusão da conferência a importância de os media "não deixarem cair a questão da agenda e, se possível, reforçá-la a nível local, onde se pode mudar atitudes mostrando à comunidade como fazer a diferença, adoptando medidas ambientais", sublinha. "Os vizinhos também actuam por imitação de boas práticas", crê, dando como exemplo a reciclagem ou o uso recorrente de transportes alternativos.
Incidindo nos mesmos quatro órgãos de comunicação em suporte escrito, o investigador da Universidade do Minho, Rui Ramos, liderou um estudo paralelo, que resultou em dados algo distintos aos apresentados por Anabela Carvalho, sobretudo "por se ter reportado a um ano em concreto", esclareceu o autor. Depois de analisados o número de artigos sobre alterações climáticas/ambiente, de Janeiro a Dezembro de 2006, conclui-se que a cobertura do fenómeno foi "objecto de cobertura relevante", com 248 artigos publicados. Não havendo, entre eles, diferenças substanciais na quantidade de textos, chamou-se a atenção, por exemplo, para a ausência de artigos de opinião na revista. A nível global, predominou o discurso directo, "para conferir credibilidade" e os textos opinativos não foram nunca assinados por jornalistas, que preferiram "esconder- -se atrás dos factos e das fontes".

