12/09/2006

POLITBOL

A trapalhada do Caos na Liga de Futebol, com o desce não desce, fica não fica e volta a ficar vai-se prolongar até resolver este nó cego.


JOAQUIM JORGE



No antigo regime dizia-se que Salazar procurava que o povo fala-se de futebol para desviar as atenções da realidade política. Com a habitual rentrée política, que o PS não fez mas fez,com o documento escrito previamente no Expresso, como um acto sibilino para condicionar e influenciar os membros da Comissão Nacional na surpreendente proposta de extinção do cargo de coordenador e respectiva Comissão Permanente .No fundo é uma forma de manter o establisement, com o mar ( debate) “flat” (sem ondas). Sócrates vai continuar a beneficiar de paz e sossego para além dos banhos e sol, os holofotes estão desviados para a trapalhada do Caos na Liga de Futebol, com o desce não desce, fica não fica e volta a ficar vai-se prolongar até resolver este nó cego. Este embuste, é o espelho da mentalidade portuguesa que deixa tudo para a última e em cima da hora, vem desde Maio e já deveria estar resolvido a tempo e horas do inicio do campeonato.Veja-se a forma como Itália resolveu o seu problema, em que se viciava os resultados dos jogos, muito mais grave que um processo meramente burocrático da inscrição de um jogador ( Mateus).Não tendo pejo em mandar para a 2ª divisão com 18 pontos negativos uma equipa como a Juventus,campeã em título. No fundo condenando-a praticamente a descer para a 3ª divisão.Se isto acontecesse em Portugal com o Porto, Benfica ou Sporting caía o Carmo e a Trindade.Há uns dias atrás, o central Ben Thatcher,do Manchester City,que agrediu Pedro Mendes, com uma cotovelada, está a ser investigado pela polícia britânica Scotland Yard. Esta investigação só foi para a frente, porque vários adeptos do clube do português Portmouth apresentaram queixa. A consequência poderá ser a prisão do jogador. Acham que isto seria possível em Portugal?Estes factos relatados em Itália e Inglaterra são uma miragem para a nossa mentalidade e forma de funcionamento das instituições e do direito.Que me desculpem os adeptos do futebol, desporto do qual fui praticante federado e sou ainda apesar da idade. Estou cansado, farto e já me mete fastio, falar desta trapalhada toda em que parece que todos tem culpa e ninguém tem razão e de repente ninguém tem culpa e todos tem razão. Ninguém se entende e não existe autoridade e voz de comando. Já não ligo, porém preocupa-me sim: se o meu filho entra no próximo ano numa faculdade estatal; se vou um dia ter reforma; se vou continuar a ter emprego; os aumentos do custo de vida anunciados para ao próximo ano ; se tenho dinheiro para honrar os meus compromissos. É preciso separar o essencial do acessório.Na minha modesta opinião, o Gil Vicente amealhou os pontos suficientes para ficar na 1º divisão por mérito próprio, se descer de divisão será na secretaria por um erro meramente processual e não desportivo. O interesse público invocado pela Federação para contrariar uma providência cautelar, já está a decorrer. As providências cautelares, estão na moda, vamos ver o que se passa nas maternidades e nos exames nacionais do 12ºano em que os Pais iniciaram essa acção para suspender o efeito da repetição de exames.Enquanto esta telenovela segue com fim ainda não programado, Sócrates agradece pois vai ter um ano político com inicio muito complicado e a fixação dos espíritos noutras andanças é bem-vindo. Ponham os olhos no seu procedimento, não admite discussões e controla tudo com o dom da ubiquidade, quer no Governo (primeiro-ministro) quer no partido (secretário-geral) e quando acha que é demais ser também coordenador extingue o cargo, ponto final!Esta discrepância esquizofrénica, entre o futebol dirigente, doente, queixoso, que parece incapaz de crer no futuro e que parece empenhado em que “quanto pior melhor” e o futebol desportivo, capaz, vital, moderno e optimista, que crê e trabalha duro por um futuro melhor, sendo vice-campeão da Europa e o quarto melhor do Mundo; não tem razão de ser



*Biólogo Escreve, semanalmente aos domingos

Artigo publicado no OPJ em 11/09/2006