Quem olha para ambas tem a sensação que Gaia está na Europa e o Porto em …Portugal
Joaquim Jorge
Recentemente fui jantar à ribeira de Gaia, olhei para a outra margem e vi a ribeira do Porto, com gente, mas muito menos frequentada. Estacionei o carro num parque adaptado de uma fábrica fechada e desembolsei a módica quantia de 1euro por mais de duas horas (achei muito agradável comparado com outros locais). Depois da refeição ao ar livre, apercebi-me de um som musical harmonioso e não pimba de um grupo moderno. Li num cartaz que esta iniciativa é apoiada pela CMG e que se realiza todas as sextas-feiras prolongando-se até Setembro. Estava uma multidão de gente, alegre, divertida e a dançar. O som foi do melhor que ouvi ao ar livre, cuidado e equilibrado e de qualidade muito boa.Seguidamente fui passear até à ponte D. Luis e olhando para o tabuleiro superior reparei que do lado de Gaia havia luz até meio do rio e o lado do Porto não tinha luz - pensei eu: questão de poupança ou coincidência nas luzes fundidas. Tudo arranjado com gosto requintado, relva bem tratada, locais de descanso, a margem do rio emparedada com pedras dentro do contexto, um local aprazível, limpo, asseado. Mais tarde, atravessei a ponte, e fui à margem do Porto. Muito menos gente, sem alegria, triste, com sujidade. O cubo sem água, um desconsolo esta zona como ex-libris da cidade, a antítese em relação à margem de Gaia. Este relato é um, em muitas vicissitudes discrepantes passadas nas mais diversas áreas nas duas cidades. Quem olha para ambas tem a sensação que Gaia está na Europa e o Porto em …Portugal.Gaia está a ganhar pessoas como visitantes e potenciais moradores, os centros comerciais, contando com o mais recente Corte Inglês, a qualidade das praias como zonas de lazer e veraneio não falando da rede criada de estradas (falta o fecho do anel com o túnel em Soares dos Reis), que permite o acesso a qualquer parte de Gaia rapidamente. Gaia está na moda mas por mérito próprio (isto é, do seu presidente de Câmara). O Porto tem várias praias interditas a banhos, sujas, as esplanadas não têm a frequência dos concelhos vizinhos Matosinhos e Gaia. O Porto decididamente está em perda e não está na moda. A quem se deverá?Tem que se dizer, para quem não saiba, que Gaia é um dos maiores concelhos de Portugal suplantando já o Porto em número de habitantes, porque em área sempre foi maior.Neste contexto tão díspar não é alheio a forma de ser dos seus presidentes. O de Gaia, Luís Filipe Menezes, muito mais optimista, virado para a acção, activo, tentando superar as dificuldades, aberto a soluções e que consegue rapidamente transformar uma desvantagem em vantagem, sendo certo que não se detém perante os obstáculos.É atento às pessoas, deixando-as falar e dedicando-lhes algum do seu tempo. Assim consegue conduzir os seus colaboradores em direcção a uma meta. É um organizador, empreendedor. Penso que todos os políticos deviam ter esta capacidade. Moderno e pondo um pouco de fantasia em tudo que faz.O do Porto, Rui Rio, é mais pessimista, aparentando uma visão mais negativa das pessoas. Não me parece ser um homem generoso, e dá a ideia de não ter a força anímica necessária para enfrentar as dificuldades e de não aceitar bem as opiniões contrárias às suas. Está sempre a elogiar o que fez no passado e acrescenta que poderia ter feito mais se não lhe tivessem criado tantas dificuldades, se não tivesse havido tanta corrupção. Não faz nenhum esforço para se adaptar às novas coisas, tem tendência a ficar parado, fechado na sua própria concha. Deixa-se hipnotizar pelas dificuldades.Rui Rio no primeiro mandato ganhou não sabe como. Eu sei: por culpa exclusiva dos velhos elefantes do partido socialista, batidos em mil batalhas e convencidos que sabem e que controlam tudo, que o Mundo é sempre igual e cristalizado. Controlar um partido é uma coisa mas os votos dos cidadãos é outra bem diferente. Não ligaram aos sinais dados pelo povo e da segunda vez não aprenderam com os erros, a tecnocracia voltou a vencer e o PS saiu-se novamente mal. O “camaleonismo” político já não passa. Em contrapartida Menezes venceu a Câmara desalojando o PS, sem dó nem piedade com uma vitória retumbante e encadeada em outros tantos escrutínios vitoriosos. Gaia é pequena demais para este homem com perfil para primeiro-ministro mas que o PSD não o quis até agora, felizmente para Sócrates e para o PS.Por este andar a fusão de Gaia e do Porto com a designação de “Portogaia” como muitos sugerem penso que ficará melhor “Gaiaporto”. Gaia absorverá o Porto e não o contrário. O Porto terá que vir a reboque do que se fez e está a fazer em Gaia. A liderança de Menezes não será uma miragem mas algo que as pessoas desejam ardentemente, pelas provas dadas e obra feita. Quem diria!!!
*Biólogo
Escreve no JANEIRO, quinzenalmente às segundas-feiras
artigo publicado no OPJ em 27/08/2006