27/06/2017

Pedrógão Grande: tudo correu mal. Porquê?



Mário Russo
Portugal tem diversas épocas todos os anos, como a época dos saldos, das férias de Natal, do verão e dos incêndios, esta como se fosse uma moda, ou seja, tem de haver uma sessão todos os anos.
Entra governo e sai governo e as mesmas promessas de sempre e as mesmas falhas de sempre, ou seja, de não cumprimento das recomendações que uma série de especialistas têm reiteradamente feito e que passam invariavelmente pela prevenção e não pelo combate, quando a probabilidade de fracasso é quase sempre de 99%, ao contrário do discurso corrente de que 99% dos incêndios são combatidos com eficácia, porque a avaliação é feita pelo número de eventos e não pelas consequências dos eventos, que é o que deveria ser feito e mostraria o constante fracasso anual.
Mas se todos sabem que é preciso ordenar a floresta e geri-la de forma sustentável porque não se faz e assiste-se ano após ano a incêndios com perda de vidas, bens e floresta?
Porque se destruíram equipas de guardas florestais pela “nossa democracia revolucionária” só porque eram do tempo da “outra senhora”?
Como é que se pode conceber que é corrente termos incêndios com frentes de 30, 40 e 50 km, sem que as manchas florestais, mesmo desordenadas, não sejam compartimentadas para estancar estas hemorragias?
De que adianta ter faixas ditas de proteção lateral nas estradas e autoestradas antes das manchas de floresta se estas têm mato e capim pronto a arder ao primeiro fósforo e daí à floresta um lapso de tempo, porque não há fiscalização?
Após o desastre de Pedrógão Grande e municípios vizinhos só podemos chegar a uma conclusão que muita coisa correu mal, juntando-se todas as circunstâncias que podiam falhar para causar o colapso.
Insistir que temos sucesso em 99% dos incêndios e não no resultado desastroso do 1% que não é atendido, é enfiar a cabeça na areia como a avestruz.
Insistir no combate, queimando recursos que não salvam a floresta nem pessoas e seus bens, só pode estar a servir os detentores privados dos meios de combate, porque o Estado que deveria ter os meios, se desfez deles para privilegiar os amigalhaços donos dos meios de combate (normalmente aeronaves e todo o tipo de equipamento de sapadores).
Não é preciso ser especialista em florestas, porque já há que chegue, para se exigir uma tomada de posição do governo. Assim como também não é preciso mais estudos, porque já os há mais que suficientes, porque será mais do mesmo. Basta implementar medidas há muito discutidas e apresentadas. O que é preciso é coragem para enfrentar todos os lobbies e fiscalizar todos os responsáveis por atividades que levam à segurança contra incêndios.
Claro que é preciso apurar a verdade e fazer o diagnóstico do que correu mal e porque aconteceu assim, apurando responsabilidades, em memória e respeito pelas vítimas. Mas encomendar mais estudos demorados para estarem prontos no inverno, será concorrer para o esquecimento e voltar a empurrar-se a solução com a barriga, como aconteceu após desastres anteriores.
Não adianta cuspir para o prato, como faz o PSD e CDS como se a culpa fosse exclusiva do atual governo. A culpa pelos desastres e pela não implementação das medidas é de todos os governos dos últimos 30 anos e não vale a pena o discurso hipócrita de acusação dos outros.
Espero que desta vez seja mesmo diferente, sobretudo pela presença omnipresente do Presidente da República que tem sido de facto o único garante de defesa dos interesses do povo português e em especial dos mais desprezados ou esquecidos e fragilizados.