19/03/2017

O Sobressalto Cívico de Joaquim Jorge no meio das Feras



Mário Russo
Tenho acompanhado pela imprensa as peripécias da nomeação de Joaquim Jorge como candidato do PSD às eleições autárquicas de Matosinhos na qualidade de independente. Na verdade não me espanta nada as derivas características dos aparelhos partidários quando são confrontados com alguém independente que até parece que ficam com urticária. O que me espantou foi a tenacidade de quem o convidou em manter o convite a um independente.
De facto o PSD de Matosinhos, que nunca ganhou uma eleição no concelho, dificilmente poderia escolher alguém mais independente do que Joaquim Jorge e ao mesmo tempo um filho da terra, conhecedor da realidade do município e amante da sua terra para liderar um projeto ganhador.
Joaquim Jorge é uma personalidade cuja prática política sem dúvida é merecedora do título de verdadeiro independente, mas não de apolítico. O trabalho por ele realizado ao longo de todos estes anos a serviço de um projeto cívico de reconhecido mérito nacional, o Clube dos Pensadores, credita-o com as qualidades que um líder deve ter, pois aglutina vontades para um projeto, é determinado e tem ideias claras sobre o desenvolvimento municipal, regional  e nacional nos seus vários domínios. Possui uma rede de contacto que nunca pode ser negligenciada num projeto com esta envergadura e tão plural que é. Por outro lado, a sua experiência como docente traz vantagens no desenvolvimento do trabalho através do método, da planificação, do rigor, da experiência na educação e formação e no contacto com a sociedade e suas ansiedades e desejos.
Mas este processo mostra como ainda há uma visão muito redutora e medíocre nos aparelhos partidários, quase sempre sectários e que costumam cozinhar os independentes em lume brando porque têm medo de perder os tradicionais privilégios que as máquinas lhes aportam com os célebres jobs for the boys, com as consequências que conhecemos na qualidade da nossa democracia e na gestão da coisa pública.
É uma tarefa hercúlea ser-se de fora do “sistema” e naturalmente Joaquim Jorge terá essa batalha a travar, caso vá adiante com a candidatura, depois desta guerra surda no interior do Partido que o convidou. Em primeiro lugar porque a estrutura distrital comandada por uma pessoa como Marco António Costa, uma verdadeira personalidade sinistra das catacumbas romanas, não augura nada de muito bom, porque Joaquim Jorge vai contra a corrente. Não é um yes man como esta gente gostaria que fosse. Os métodos intelectualmente desonestos que vão ser utilizados para diminuir e desestabilizar JJ, vão ser mais que muitos, pois está-lhes no sangue assim proceder, sem qualquer escrúpulo.
De facto é pena que ainda não se tenha evoluído nada no campo do ativismo partidário, a bem da democracia e da sociedade. Continuamos com um sistema verdadeiramente incestuoso entre militantes de carteirinha que vão ciclicamente escolhendo quem vai para aqui e para ali,  independentemente das qualificações que as diversas posições possam exigir. Para essa gente o que importa é o servilismo. Quando assim é, a luta é muito maior e eivada de espinhos pelo caminho. Mas é também em épocas de tormenta que emergem os verdadeiros líderes.
A decisão de continuar só pode ser tomada no silêncio da meditação que Joaquim Jorge certamente fará. Os membros do CdP, ou pelo menos a sua maioria, estarão com JJ na sua decisão. Desejo-lhe as maiores felicidades na contenda política que se avizinhará e um desafio a enfrentar que é desalojar a tradicional escolha do campo socialista que o município tem tomado nas últimas décadas.