16/02/2017

POLÉMICA NA CGD: A VINGANÇA



Mário Russo
A CGD é uma instituição financeira pública da maior relevância para Portugal, que nos últimos anos tem sido muito mal tratada por gestores incompetentes, como se pode constatar com alguma facilidade, para agradar a clientelas políticas do arco da governação.
A má gestão obrigou a uma recapitalização porque o desvio de dinheiro para amigalhaços que não pagaram e nem tinham competências para desenvolver seja o que fosse com tão chorudas verbas, fazia prever. Daí a necessidade de mudar a gestão para pessoas com competências na área financeira e não mais jobs for the boys.
Todos acompanharam as peripécias, mal contadas, da nomeação de António Domingues, que saía do BPI para governar o banco público. Um gestor com provas dadas. Começou por não se perceber o silêncio de António Domingues no que toca à obrigatoriedade de apresentar as declarações de rendimentos, como se estaria a esconder algo imoral. Assim deixou-se cozer em banho-maria, invocando um acordo com Mário Centeno para que não fosse necessário apresentar as referidas declarações.
Mário Centeno deve mesmo ter feito acordo com Domingues, por total inabilidade política e falta de experiência nestas andanças, mas foi-se desviando desse compromisso quando verificou que tinha-se excedido nas promessas. Sai Domingues e entra Paulo Macedo, um gestor com gabarito e provas dadas, a que se junta Rui Vilar, uma sólida personalidade que já geriu a CGD com sucesso.
Parecia que a polémica tinha acabado, mas foi puro engano. A vingança de Domingues está a ser servida a conta-gotas. Agora sai uma notícia de um SMS, amanhã sai outra para confirmar alguma peça de defesa de Centeno.
Há muito tempo que não se via uma novela “mexicana” deste tipo em horário nobre. Domingues, cínico como não podia ser melhor, no seu ar cândido vem dizer que não revela o teor dos SMS, mas os seus assessores vão revelando. Agora diz, se a CPI exigir, que revela para não incorrer em crime de desobediência. Cinismo a tal nível só em filme de 2ª categoria ou em novela mexicana. O ódio é absolutamente visível. E disso se aproveita o PSD e CDS, para quem os resultados macroeconómicos obtidos pela geringonça, que até vergaram a Comissão Europeia, de nada valem, e um caso destes é ótimo para desviar a atenção.
Com efeito, os deputados do PSD e CDS estão a cair em cima de Mário Centeno como urubus sobre carniça, que só o vão largar quando este estiver prostrado no chão. Nada mais interessa e o país não tem mais problemas que não sejam ver Centeno num “caixão”. É a vingança dos políticos que perderam o governo de forma, dita por estes, “ilegal”.
Vaticino que Centeno vai mesmo cair, pese embora o suporte do PM e do PR, diante da guerra desenfreada que o bando de urubus vai continuar cada vez mais a fazer, com o apoio incondicional do cínico Domingues.
É um espetáculo medonho protagonizado pelos políticos envolvidos e pelo gestor financeiro preterido, que revela incompetência, mentira, falta de escrúpulos, cinismo, canalhice. É um “belo” retrato deste Portugal moribundo e sem valores.