06/10/2015

A NOITE DE TODAS AS INCERTEZAS




Daniel Braga 
Mais um acto eleitoral em Portugal, mais uma vitória da democracia e da atitude cívica, demonstração de maturidade política e de responsabilidade por parte dos agentes políticos e dos eleitores portugueses. Os que foram e os que não foram votar. Votar é um acto cívico de enorme responsabilidade, revelador da forma como todos os atores se envolvem e intervêm na escolha de quem querem nos destinos da governação. Fizeram-no em inteira liberdade, como é norma de uma sociedade livre e democrática. E mesmo os que se abstiveram usaram de um direito inalienável que lhes assiste e que vale tanto como o acto de expressar o voto em urna. Assim, num dia de emoções fortes, houve vencedores e vencidos para todos os gostos conforme a área ideológica em que nos posicionamos. Mas vendo bem as coisas, digerido que está o acto eleitoral e numa fase pós-eleitoral de reflexão dos resultados, todos poderão cantar vitória e considerarem-se todos eles os grandes vencedores nda noite eleitoral. 
A Coligação da Direita, em primeiro lugar, porque passados 4 anos de enormes sacrifícios, em que receberam um Portugal feito em frangalhos e em que tiveram de respeitar e implementar o Memorando que a Troika nos impôs - num momento de enorme fragilidade económica, social e financeira – vencer com larga margem (6%) um Partido Socialista que muito prometeu inicialmente mas que foi dando sucessivos tiros nos pés, não estaria no pensamento dos mais otimistas que alguns meses antes davam a derrota como que quase adquirida. É bom recordar que  Passos se transformou no primeiro líder europeu sob um programa de austeridade a ser reeleito ( o caso inglês com David Cameron, também reeleito, é diferente pois o Reino Unido não pertence ao Eurogrupo). Um Partido Socialista que, embora sendo o grande derrotado destas eleições, acaba por se transformar no fiel da balança num governo de uma Direita que não obteve maioria absoluta, com um papel importante enquanto moderador e vigilante da governação. Um Bloco de Esquerda, com uma percentagem elevada, muito por força de muitos votos capitalizados e conquistados aos descontentes do PS e do Centro (Direita e Esquerda) e transformando-se na terceira força política em representatividade na AR, ultapassando o crónico PCP-PEV (CDU). A CDU que, embora derrotada em toda a linha pelo BE, ultrapassou em votos e mandatos anteriores resultados e derrotou a Direita através de uma maioria de Esquerda agora representada no Parlamento.  
O PAN (Pessoas, Animais e Natureza) também ele um grande vencedor do acto eleitoral pois conseguiu, contra todas as expetativas, eleger um deputado pelo círculo de Lisboa. E agora os derrotados da noite: a Coligação PSD/CDS-PP porque , embora vencendo as eleições, perdeu a maioria absoluta que detinha, o que a obriga a criar compromissos, a assumir negociações e a fazer uma governação diferente. O PS , porque falha redondamente os objetivos a que se propunha, não vencendo as eleições e sendo derrotado com uma diferença percentual que não se deve descurar. A CDU, durante muito tempo a terceira força partidária,  desceu um lugar na hierarquia dos lugares na AR e foi derrotada de forma muito clara pelo BE. O PDR de Marinho e Pinto, depois de muitas expetativas, foi um balão de ensaio que se esvaziou rotundamente, não conseguindo sequer eleger um deputado. O mesmo vale para o LIVRE e o AGIR que apesar de muito prometerem foram uns autênticos erros de casting, não tendo também nenhum deles deputados eleitos. E pronto, temos uma nova realidade, com novos desafios e perspetivas e cuja mudança, embora mais suave do que se previa, deve ser levada em conta pois foi essa a vontade dos portugueses. 
Passado o tempo da Troika e dos imensos sacrifícios - mesmo sob cautela e algumas precauções – devem ser promovidas novas iniciativas de desenvolvimento económico, novos incentivos ao crescimento e ao emprego e um olhar mais cuidado à política social. Entramos em novos tempos, que obrigam a mais e diferentes olhares que não só os direcionados à austeridade e à contenção.  Os portugueses precisam de novos estímulos e desafios acrescidos, rumo à competetividade algures e à melhoria do seu modo de vida. Tivemos momentos de grande dificuldade que foram sendo superados. Chegou a altura de um novo tempo e de uma mudança , qualitativa e com algum critério. Para que os olhares do exterior continuem a acreditar e a ter confiança em nós. E para bem de Portugal e dos portugueses.