27/08/2015

Os trabalhos hercúleos de António Costa





 Os tempos estão difíceis para António Costa em vésperas das eleições legislativas. O seu partido continua a ter demasiadas vozes, algumas das quais ainda a “mando” de Sócrates a causar estragos que podem não ser recuperáveis em tão pouco tempo.
Pedro Passos Coelho conta com apoios de socialistas de peso, como é o caso de Maria de Belém Roseira, que quebra o PS a meio e desvia do essencial as energias que deveriam ser canalizadas para as legislativas.António Costa tem de lutar contra adversários externos e contra estes inimigos internos, assim como um contexto externo que favorece nitidamente o Governo em funções.
Com efeito, depois de 4 anos de dieta a pão-e-água, um pouco de manteiga já faz uma grande diferença. Mais ainda num país com um povo pouco esclarecido e com fraca educação. O preço do petróleo está a afundar países produtores e a fazer flutuar países importadores, que agora precisam menos de metade das divisas. O BCE de Mário Draghi decidiu, à cautela, baixar a taxa de juro de referência e a comprar dívida soberana quanta a necessária, acalmando os ditos mercados. A Grécia, que tinha um governo revolucionário, foi esmagada pelo peso das botas cardadas duma Alemanha … quase nazi, para gáudio do PSD/CDS. A arrecadação de impostos é anunciada como record e a encher “os cofres”.
São demasiadas boas notícias económicas (ainda bem) para um governo que ferrou sem piedade os portugueses e agora, o algoz anuncia as prebendas para o futuro… se…se…, apesar de serem mentiras.
Por isso, António Costa tem de começar por pôr ordem na casa para evitar os constantes “tiros-nos-pés” que diversos membros narcisistas que pensam apenas nos próprios e não nos superiores interesses do partido.
A começar pelo hóspede da cadeia de Évora, o ex-PM José Sócrates, que continua a causar embaraços ao PS cada vez que se lembra de travar-se de razões com a Justiça, muito bem aproveitado pela imprensa PSD que tudo faz para dar protagonismo ao preso e constranger António Costa.
Qualquer partido deve pugnar para que os seus membros sejam pessoas de bem. Quando algum membro está a contas com a justiça com processos graves, se for pessoa séria, é a primeira a pedir suspensão até aclaração da situação. Quando tal não acontece, como é o caso de Sócrates, com as acusações gravíssimas que sobre ele impendem, sem ter a estatura ética e moral de pedir a sua suspensão do Partido para não o prejudicar, aliás, mantendo o seu narcisismo à frente de todos os interesses coletivos, deveria ser suspenso preventivamente de membro do partido. Sócrates continua a dominar uma franja de militantes que o acompanhou enquanto governante, de má memória para os portugueses. É uma intromissão na vida do partido de oposição e fácil de ser usado, como está, pela oposição que vale tudo.
António Costa tem-se afastado de Sócrates, mas não é suficiente. Há membros socráticos que causam repulsa à maioria dos portugueses que continuam no ativo, comentando política nacional em colunas de opinião na imprensa escrita ou a convite da imprensa controlada pelo PSD que fazem de propósito para condicionar o líder do PS. António Costa tem de encostar esses militantes à parede: querem continuar a prejudicar o partido?
António Costa tem de centrar-se no essencial e explicar bem o que se passa na frente política, desmontando os argumentos do Governo CDS/PSD, que nada fez para que o preço do petróleo esteja 50% abaixo que que estava, nem para a decisão de Mário Draghi inundar o mercado com a compra de dívida soberana (contra a opinião de Passos Coelho, que foi além da Tróika) que tem levado à redução drástica dos juros respetivos. A melhoria económica que se sente no país não pode ser negada, mas não é mérito deste Governo. É uma melhoria assente na procura interna que teve uma forte ajuda do Tribunal Constitucional que evitou o confisco de mais de 2,7 mil milhões de euros que Passos Coelho pretendia sacar aos portugueses. Mas é uma melhoria que tem de ser bem acolhida pelas oposições, realçando que a mesma está alavancada por compras de bens imobiliários e automóveis, que é um perigo.
Também a insegurança que a Primavera Árabe trouxe ao Norte de África desviou os turistas ricos da Europa (franceses à cabeça) para Portugal. Uma boa notícia para o turismo português, que deve ser realçada, mas bem enquadrada. Isso iria acontecer fosse quem fosse o Governo. Até o rato Mickey.
António Costa vai ouvir até à exaustão o argumento de que foi ele que livrou Portugal de ser uma Grécia, tal como Salazar disse ao povo português que o livrou da II Guerra Mundial. Deve demarcar-se desta colagem, mostrando que a Europa não está a lidar bem com o caso Grego. Nada foi resolvido. Apenas fingiram que a situação foi resolvida. É uma questão de tempo e tudo voltará como um bumerang, atingindo Portugal e o sonho europeu.
António Costa, tem de reunir forças e canalizar energias sem dar o flanco. São pormenores que vão levar os indecisos a optar por um ou outro partido. Costa não pode dar-se ao luxo de deixar socratistas terem protagonismo. Deve tirar o máximo partido da recusa incompreensível da Coligação entrar nos debates plurais, porque Passos Coelho tem medo de estar sem Paulo Portas, um manipulador profissional que iria confundir e manobrar os debates como bem sabe.
Costa também tem de repetir até à exaustão os perigos das propostas de Passos Coelho privatizar a Saúde, a Segurança Social e a Educação. Deve mostra o que se passa em alguns países com a privatização destas áreas e as consequências nefastas para os mais pobres. António Costa deve antecipar-se à tentativa de colagem do seu PS ao PS de Sócrates, tal como o Benfica de Jorge de Jesus não é o mesmo do de Rui Vitrória. Porque raio há-de António Costa andar a defender o que de mal foi feito por Sócrates? Tem de fazer o mea culpa naquilo que não concorda e mostrar o seu próprio caminho. Foi por pensar diferente que se submeteu a votos no seu Partido. Não pode deixar-se imolar pelas trapaças de gente como Portas e a máquina de propaganda do PSD que o querem levar às cordas.
Costa tem de ouvir quem achar conveniente, mas não se pode deitar no regaço seja de quem for, em especial dos académicos, que têm o seu valor, mas que não são necessariamente bons executantes. Há modelos matemáticos que servem de base ao apoio a decisões, mas que não podem ser confundidos com a realidade como alguns académicos (maus) pretendem fazer crer, com os resultados que já sabemos. António Costa tem de escutar o seu mais profundo instinto político e a racional experiência executiva e seguir o seu caminho, que é para o bem de um povo e não dos amigos do aparelho partidário.
Há assuntos que podem ser bem usados: consequências das privatizações realizadas até agora. A
Destruição de empregos. A desmistificação dos números exibidos pelo INE sobre desemprego, forçado pelo raspanete do PM que não gostou da mensagem e mandou matar o mensageiro. AC tem de evitar entrar por facilitismos, porque os portugueses não confiam quando a esmola é grande. Se há uma boa notícia na área económica, tem de mostrar que a sua política teria dado ainda melhores resultados que os anunciados e quantificar, coisa que não é difícil, pois são os mesmos argumentos porque há melhoria económica (sobretudo alavancada pela procura interna).
Mário Russo
Se Costa não comandar as “tropas” arrisca-se a perder o comboio e entregar o ouro, literalmente ao bandido.