24/07/2015

MATOSINHOS PENSADO




Há quem ache que só se deve falar de eleições próximo da sua data. Eu pelo contrário penso que até à data de uma contenda eleitoral é necessário como diz o provérbio, «quem vai para o mar aparelha-se em terra". As próximas eleições autárquicas em 2017 aqui em Matosinhos vão dar muito que falar.
A sucessão de Guilherme Pinto está na ordem do dia, nada tendo que ver com a sua doença (tem demonstrado uma tenacidade e luta dignas de registo), mas por força da lei: limitação de mandatos. Terá que haver uma nova cara.
A questão que se põe: quem será? Guilherme Pinto actualmente é independente, entregou o cartão de militante socialista para poder concorrer contra o seu partido (PS), até então. Está excluído.
António Parada como líder da oposição não deixará de tentar ser o escolhido pela estrutura do seu partido (PS). Todavia vem de uma derrota pesada.
Se tivesse sabido esperar e ter sido o número dois de Guilherme Pinto, seria naturalmente o candidato do PS em 2017. De novo como diz o ditado popular, «quem tudo quer tudo perde». Assim não me acredito nessa possibilidade. Estava obcecado por concorrer a Presidente de Câmara e saiu-se mal.
Por outro lado, fala-se em Luísa Salgueiro. Mas francamente alguém que é deputada e abandonou funções em Matosinhos (chegando a ser vereadora e deputada) à partida terá mais dificuldades. Nada tenho contra a Luísa de quem sou amigo mas será mais útil como deputada. Optou por ir embora e não se pode voltar para ter um lugar. Isso tem que ser bem explicado aos matosinhenses. Todavia o PS pode escolhê-la mas as suas chances são reduzidas.
Fala-se em Palmira Macedo, actual presidente da Assembleia Municipal, de quem se diz que  Guilherme Pinto não toma nenhuma decisão sem o seu agrément. O seu poder extravasa as suas funções que são de liderar os trabalhos da Assembleia, não tendo funções executivas.
A espaços, fala-se do número dois de Guilherme Pinto, Eduardo Pinheiro que ninguém conhece e aterrou em Matosinhos de pára-quedas sendo uma escolha pessoal do actual presidente. Eu pergunto porque não pode ser Nuno Oliveira antigo número dois? E naturalmente Correia Pinto ou Fernando Rocha? Têm experiência e capacidade de se adaptar a várias circunstâncias. Já trabalharam com Narciso Miranda e agora com Guilherme Pinto.
Por fim, temos Narciso Miranda, um verdadeiro enigma, que pode ter a sua derradeira oportunidade de voltar à CM Matosinhos. O seu trajecto depois de acatar a ordem do PS de não concorrer em Matosinhos, devido ao famigerado episódio da lota. Passados quatro anos em 2009, concorreu contra o PS, mas não teve o cuidado, ou fê-lo deliberadamente, de entregar o cartão de militante. Perdeu as eleições e o cartão de militante do PS. Mais tarde, em 2013, não participou no acto eleitoral. Mas agora em 2017, pode abrir-se uma janela de esperança e oportunidade. Porquê?
Narciso Miranda foi enganado e ostracizado pelo PS, rejeitaram o seu contributo e a sua mais-valia em virtude de algo que todos tiveram culpa. De outro ponto de vista está no seu direito, de novo, ir a votos, é um cidadão expulso do partido, mas o que conta é que é um cidadão livre e independente.
Evidentemente que Narciso Miranda cometeu erros, alguns inexplicáveis, mas aprender com os erros ensina-nos a evitá-los. O primeiro passo para tirar proveito deles consiste em perder a vergonha de errar. Com os erros aprende-se. O problema é que em Portugal o erro é mal visto. Errar uma vez não quer dizer que se reincida mas que nos abre as portas para a criatividade e para fazer de outra forma. Nos Estados Unidos, num processo de selecção para um posto de trabalho um currículo com experiências negativas é muito bem visto. Alguém que, por exemplo, montou um negócio ou teve um lugar de chefia e teve uma experiência catastrófica passa a ter mais experiência e maturidade do que quem não a teve. A probabilidade que essa pessoa tem de ter mais iniciativa, ser mais inovadora e criativa aumenta.
Todavia o maior inimigo de Narciso Miranda é ele próprio. Assim ele saiba reencontrar-se e ter cuidado com quem o segue. O tempo tem permitido ver que Narciso Miranda não é assim tão desprezível e é alguém a ter em conta.
Matosinhos tem cometido muitos erros e dado uma imagem péssima para o exterior. Quem detém o poder ou quer ir para o poder não o faz por mal ou estupidez pensando que está a fazer bem. Keynes dizia que, «por vezes partindo de um erro lógico persistente pode levar-te ao manicómio».
Espero que Matosinhos não se torne um manicómio…

nota: muita gente me inclui na lista de candidatos à CM Matosinhos pelo que tenho feito pela cidadania e participação cívica no Clube dos Pensadores, não sendo alheio os inúmeros debates realizados em Matosinhos (Leça da Palmeira, S. Mamede, etc.) e o programa de rádio na RCM - Clube dos Pensadores - que esteve no ar, cinco anos, em que dava voz às pessoas de Matosinhos. Todavia auto-excluo-me apesar de receber imensas solicitações e incitamentos.
Joaquim Jorge 
*artigo de opinião publicado O Matosinhense