29/07/2015

Artigo de opinião de Joaquim Jorge no PT Jornal



Luís Filipe Menezes 2.0

Gostava de ver, de novo, Luís Filipe Menezes na CM Gaia. Eu sei, eu sei, há várias questões jurídicas e económicas a decorrer em relação aos seus mandatos à frente de Gaia. Também sei, que consta que logo que Luís Filipe Menezes deixar de ser conselheiro de Estado perde a imunidade e virão mais problemas.
Todavia se Luís Filipe Menezes tivesse ficado à frente da CM Gaia por mais anos, poderia resolver os casos pendentes à sua maneira que estavam sob a sua alçada. Não me acredito que tenha usado de má-fé, o problema é que se pôs a jeito como se costuma dizer.
Por outro lado, também sei que em Portugal há muito a "teoria do que vem a seguir". Isto é, a pessoa que ocupa um lugar a seguir a outro tem por hábito dizer sempre mal do seu antecessor. Basta ver um mero exemplo de alguém que faz obras em nossa casa, a culpa é sempre de quem veio antes, o picheleiro a dizer mal do trolha, o electricista a dizer mal dos buracos feitos, etc.. O normal em Portugal, o presidente de Câmara que toma posse a dizer mal do seu antecessor, o primeiro-ministro que toma posse dizer mal do seu antecessor e assim sucessivamente. Faz parte da cultura de maledicência portuguesa.
Eu não sei porquê, mas gosto de Luís Filipe Menezes. Já o critiquei várias vezes e fez coisas para mim inexplicáveis. Por exemplo, estava nos últimos tempos muito mal rodeado, deste modo mal aconselhado, começou a pensar cedo demais no Porto, nunca conseguiu explicar bem que a ida para o Porto era para um bom projecto, e não, para ocupar um lugar que tinha que deixar o de Gaia. Por fim, uma análise com alguma distância, se soubesse esperar quatro anos, pela obrigatoriedade da limitação de mandatos teria, de novo, a cidade de Gaia a seus pés.
Gosto de Luís Filipe Menezes pelo seu lado educado, bom aspecto, rebelde, insubmisso, em que o limite é o céu. Nada com ele é impossível, basta ver o que fez em Gaia. Há uma cidade de Gaia antes de Menezes e depois de Menezes (vivo em Gaia há 30 anos). É um sonhador, criativo e charmoso que conseguiu envolver as pessoas nos seus sonhos. O problema coloca-se nos seus exageros.
No seu léxico não existe a palavra impossível. Aliás conseguiu fazer do impossível possível. Há uns anos atrás quando se dizia que se ia a Gaia. Quem vivia do lado do Porto dizia que se ia a "Marrocos". Designação depreciativa de quem atravessava a ponte Arrábida e que vivia num local mais parecido com o norte de África do que com uma zona de um país europeu. Esta expressão é de um bairrismo exacerbado mas tinha um fundo de verdade, faltava quase tudo a Gaia. Agora não tem razão de ser.
Gaia tem um litoral do melhor de Portugal, saneamento básico, infra-estruturas de todo o tipo de uma rede viária de fazer inveja a qualquer das melhores cidades portuguesas. O seu calcanhar de Aquiles foi o interior de Gaia. A lei de limitação de mandatos é que impediu a execução desse plano pós-2013.
Com Luís Filipe Menezes à frente de Gaia, a cidade ganhou em estatuto, classe e modernidade. Gaia não pode ser o parente pobre do Porto. Gaia é Gaia, têm uma história igual ao Porto mas tem mais gente e mais espaço que o Porto. Falta-lhe ter o mesmo "nome", todavia com o tempo havia de o conseguir. Um nome é algo que demora a fazer-se.
Deste modo Luís Filipe Menezes deveria ponderar voltar a Gaia noutro registo, na versão Luís Filipe Menezes 2.0, juntar a sua veia inovadora mas com mais controlo dos gastos e acompanhado de outro tipo de pessoas, as sanguessugas que andaram à sua volta prejudicaram-no seriamente.
Gaia é uma cidade que merece ter alguém com pedigree. Não sei se está pelos ajustes e quer voltar? Eu como gaiense gostava de o ter de volta, perdoo-lhe algumas coisas menos correctas se me souber explicar o que se passou.
Mas nesse futuro projecto deve rodear-se de pessoas menos dos partidos e mais da sociedade civil. Acabar o que ficou por fazer, num projecto sempre para a frente mas mais sustentável. No fundo uma nova versão Luís Filipe Menezes 2.0 , com um reset.

Joaquim Jorge

*artigo de opinião publicado no PT Jornal