A Grécia acaba de capitular diante de dirigentes europeus
que ufanamente dizem ter chegado a um acordo. Na verdade não passa de um
eufemismo utilizado pelos senhores que mandam e desmandam a seu bel prazer
nesta Europa cínica.
Alexis Tsipras ganhou as eleições prometendo romper com o
status quo reinante em Bruxelas e que estava a levar o povo Grego à miséria com
um plano de austeridade que não resolvia o problema da economia e nem sequer
permitia que o país pudesse honrar os compromissos assumidos pela Nova
Democracia, partido do Sr. Samaras, que fazia o trabalho imposto pelos credores
internacionais. Uma espécie de Passos Coelho Grego. Agora capitula e pode ser
contestado fortemente nas ruas. Se era para fazer este papel, devia estar
quieto.
Este novo Partido de contestação prometia fazer história na
Europa. O seu líder, Alexis Tsipras, não usa gravata, tal como o seu ministro
das Finanças, Yanis Varoufakis, um prestigiado professor de economia numa
prestigiada universidade americana, que anda de moto e de avião em classe
económica, prometiam virar a mesa dos betinhos incultos que pululam nos
corredores de Bruxelas. Mas capitularam às mãos esganadoras e sufocantes dos
credores que sabiam que Aquiles deixou um calcanhar frágil na Grécia. A sua
estatura administrativa é rudimentar, a máquina fiscal inexistente, a
disciplina é uma miragem e o rigor uma forma retórica de ver as coisas. Nestas
condições era fácil sufocar a economia, estrangulando-a, como se viu. Sem
dinheiro, o país não pode comprar a maior parte dos bens que vem dos países
vizinhos. O suficiente para a contestação voltar às ruas e forçar o Governo a
ceder em toda a linha, ou quase. Já sem Varoufakis, que se demitiu porque sabia
que a sua presença irritava os betinhos, a nova equipa apresentou-se em
Bruxelas com uma corda ao pescoço, como Egas Moniz diante do rei de Espanha.
A Grécia, ao contrário do que se faz crer, foi o país da
Europa que mais cortes nos rendimentos teve de fazer para satisfazer o plano de
“ajustamento” da economia desenhado pela troika. Cortes salariais e nas
pensões, aumento de impostos, cortes nos benefícios sociais, privatizações a
tuta e meia, etc., com os resultados que aí estão. Só que querem insistir na
receita, cujo resultado já se sabe de antemão.
A dívida que o país contraiu sem qualquer escrutínio por
parte das instâncias credoras, é impagável porque a maior parte não beneficiou
o povo Grego, mas a indústria e a banca alemã e francesa e a oligarquia Grega,
portanto ilegítima. Culpados são os governos da Grécia que antecederam o do
Syriza e, sobretudo, as instâncias europeias e o FMI pela conivência
estratégica que deixaram arrastar por décadas o regabofe. Agora, todos deveriam
assumir os erros desse passado vampiresco e aceitar, com os ajustes adequados,
o plano apresentado por Tsipras, porque permitiria a Grécia pagar o montante
que lhe cabe liquidar e com tempo. Mas à imagem desse plano, com um corte na
dívida (também erradamente chamado de perdão), outros países em iguais
circunstâncias, como Portugal, deveriam ser contemplados, como única forma da
economia crescer minimamente e beneficiar muito mais gente.
O Syriza estava convencido que a sua dívida astronómica era
suficiente para que outros países em pré-bancarrota, como Portugal, Espanha,
Itália, Bélgica e Irlanda se unissem em prol de uma reflexão séria de modo a
tratar do assunto com a dignidade que o mesmo merece. Só que os pobretanas
foram os que mais finca-pé fizeram para torpedear os intentos de Tsipras. Estão todos convencidos que estão bem, como se
vangloria Passos Coelho, e que a Grécia é que tem de ser educada á força, pois
são uns preguiçosos. Porém, o pior é que ainda não se viram ao espelho.
Mário Russo |