02/05/2015

Como os pilotos da TAP afundam a companhia de bandeira



Mário Russo
O sindicato dos pilotos da TAP, uma classe de marajás das índias, decidiu uma greve de 10 dias com o argumento de que o Governo não vai ou não está a cumprir o acordo assinado em Dezembro, ao contrário do que diz o Governo.
Parece ser a agenda dos senhores da Direção do sindicato, como de resto se passa com outros sindicatos, correias de transmissão política dos partidos, sobretudo PC (CGTP), mas também PS e PSD (UGT). Nenhum tem a menor intensão de defender os seus membros, mas as próprias carreiras na estrutura sindical e partido correspondente.
Os pilotos querem 20% da companhia e deveriam ter essa percentagem, inclusive a respetiva responsabilidade percentual sobre a dívida da companhia. O Governo PPC não tem sabido resolver este diferendo e teima em privatizar a qualquer custo, dando combustível a radicais como o Presidente do sindicato que corre não sei por conta de quem.
Os sindicatos das empresas públicas de transportes têm causado prejuízos de centenas de milhões cujo pagamento é feito pelos portugueses através de impostos. As suas greves são injustificadas no plano racional e odiadas pelos portugueses. Ódio que pode virar-se contra os próprios e dar uma ajuda ao governo nas próximas eleições, dependendo do desfecho.
As greves no grupo TAP, só no último ano ascendem diretamente a mais de 100 milhões de prejuízos. Esta greve de 10 dias é criminosa a todos os títulos, porque põe em risco muitas empresas ligadas ao turismo e a negócios, causando centenas de milhões de euros de prejuízos. Ninguém tem o direito de prejudicar terceiros com a sua atuação, quando não há alternativas. O Presidente do Sindicato deveria responder em Tribunal pelo crime que comete. É uma espécie de senhor da guerra, pois vários pilotos são contra este tipo de atuação, por mais que tenham razão. Este senhor é uma espécie de Savimbi, o senhor da guerra que quando foi silenciado acabou imediatamente a sangria que se derramava há décadas em Angola.
Fazer uma greve de um dia para mostrar o descontentamento e para serem ouvidos, ainda se poderia justificar, coisa que aliás nem precisam, pois basta ver que marcaram uma coletiva em horário nobre em todas as TVs para o senhor presidente dos pilotos, alcandorado a estrela mediática, vociferar as razões (infundadas) da paralisação. Marcar 10 dias é um crime premeditado para arruinar definitivamente a companhia e para isso, não pode haver complacência. É crime contra a coisa pública. Ninguém tem o direito de o fazer, por mais que possam reclamar direitos.
O Governo não pode ser tão displicente com uma empresa em que é o único dono. Ou tem capacidade para pôr ordem nas tropas, ou também deve assumir as suas responsabilidades políticas claudicando e demitindo-se por incompetência. Um país ou uma empresa não podem ser competitivos sem disciplina, ordem, competência e trabalho. Nada é incompatível com a liberdade, até porque esta termina onde inicia a dos outros. É o caso. Os pilotos da TAP não são taxistas. Têm sobre os seus ombros responsabilidades que vão para além de empregados e para isso ganham mais de 20 salários mínimos nacionais. Estão a representar um país e não podem pôr em causa o bom nome de milhões de concidadãos e arruinar colateralmente quem não pode prescindir dos seus serviços.
Este episódio revela a falência das negociações do Governo, que as conduziu de forma inepta, mas também dos pilotos sob a batuta do respetivo sindicato e seu presidente, que aceitaram uma falsa negociação para se livrarem da requisição civil de Dezembro, sabendo que a qualquer momento meteriam a faca ao peito do negociador.
O PS, na voz de António Costa, deveria aproveitar a oportunidade para clarificar o que pretende fazer com a TAP, preto no branco, sem titubear nem ter complacências, doa a quem doer. Os portugueses querem e merecem veracidade nas propostas dos políticos. Por outro lado, ninguém gosta de ser liderado por um fraco. É a hora de se mostrar resoluto e assertivo, evitando o facilitismo.