28/02/2015

Syriza: os 12 Trabalhos de Hércules numa Europa cega



Mário Russo
A Grécia tem um Governo que é a esperança do seu povo que foi humilhado e ridicularizado por essa Europa pouco solidária.  A Alemanha, que após a 2ª Grande Guerra teve a sua astronómica dívida perdoada em mais de 50% e os nórdicos, subjugaram o povo Grego e atiraram-no à sarjeta.
Foi a raiva e desesperança que em 1933 levaram o povo alemão a deitar-se no regaço de Hitler. Foi a raiva e a desesperança que levaram o povo Grego a votar no Syriza, democraticamente. A tarefa do novo Governo é hercúlea. A corrupção, evasão fiscal, desorganização, indisciplina, malandragem, privilégios ilegítimos, são apenas alguns dos campos em que Alexis Tsipras terá de combater no campo interno, porém, tem uma batalha no campo exterior, onde inimigos proliferam como o Leão de Nemeia ou a Hidra de Lerna.   
Por isso, o novo líder do governo da Grécia e o seu inefável ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, têm sobre os seus ombros 12 trabalhos de Hércules. Precisam vencer a teoria do empobrecimento do FMI, qual Hidra de Lerna, mas também a política da austeridade do Sr. Schauble e Dona Merkel, que devasta territórios por esta Europa, punindo os povos do Sul, como o Javali de Erimanto, morto por Hércules.
O monstro de 3 corpos, a Tróika, é o Gigante Gerião que tem de ser domado e morto para evitar destruir mais do que já destruiu.
Na verdade, a União Europeia não está a ser inteligente neste processo, pois não está a propiciar uma chance ao desgraçado povo Grego de se levantar. Alexis Tsipras aliviou a austeridade com o aumento do salário mínimo e outras medidas de emergência para melhorar a vida e trazer esperança ao povo. É uma medida sensata e inteligente, pois é a forma de poder impor reformas necessárias e impopulares, como acabar com a vergonha dos funcionários fantasmas cujos salários caem na conta de outros, implementar uma reforma fiscal e o combate à evasão fiscal. Acabar os privilégios ilegítimos de muitas classes. Acabar com a lista de mais de 250 profissões de desgaste rápido que dão direito a reformas aos 40 anos, etc.  
Para fazer reformas tão profundas, é avisado dar primeiro o pão, para depois exigir. Os mercados devem perceber a mudança necessária, se quiserem receber, porque o que se passa hoje é o governo fingir que vai pagar a dívida e os credores fingem que vão receber. Há que ser realista, como dizia Paul Krugman, mas os senhores mandados por Schauble, o sinistro ministro que seria uma pérola para Hitler, têm ilegitimamente sufocado e ameaçado o Governo Grego. Até os países que sofreram injustamente, como disse Juncker, estão a fazer o jogo sujo da Alemanha. Ainda não perceberam que a esperança da Europa é o Syrisa dar certo.
Os países que foram punidos pela Tróika deviam apoiar a Grécia nas reformas e na pretensão do seu governo em ver a dívida perdoada a 50%, porque é a única forma de poderem pagar aos credores. Os fundos abutres que se abatem sobre os países já ganharam o suficiente. É tempo de dar a voz à cidadania. As desigualdades crescentes são a mãe dos extremismos hediondos que temos vindo a experimentar. A Grécia é demasiado importante para o Ocidente para ser deixada à sua mercê. A Europa insensível e cega corre um risco sério. Eu só desejo que o Syrisa não recue e ameace seriamente sair da zona euro e colapsar esta vergonhosa solidariedade de vampiro, se não houver a devida compreensão para o seu problema. Se é para ficar pior, para que serve estar na UE, um clube de raposas?  Não vale a pena. O Governo Grego não pode claudicar e penso que não está, pese embora análises que se vão fazendo da sua capitulação, pois é a esperança da Europa e do Ocidente. A ver vamos.