13/01/2015

Sobrinho Simões deu um Concerto no Clube dos Pensadores




 O cientista médico Sobrinho Simões é uma personalidade Maior em Portugal e uma das maiores autoridades mundiais na área da medicina oncológica convidada por Joaquim Jorge para iniciar as atividades do Clube dos Pensadores no ano de 2015 com pontapé de Ouro. Após uma homenagem à tragédia no Charlie HEBDO e de uma sumária, mas brilhante resenha biográfica do convidado de honra, Joaquim Jorge deu a palavra a Sobrinho Simões que dissertou sobre a nova medicina, com novas doenças, novos médicos e novos doentes.
Com efeito, os médicos defrontam-se hoje com doentes que deixaram de ser passivos e que tinham os médicos paternalistas do passado, porque já submeteram os seus problemas a possíveis respostas em pesquisas na internet, colocando novos problemas e escrutínio aos médicos, com os perigos que isso representa a quem tem uma grande iliteracia médica. Mas induzindo uma incerteza nos médicos e crescente dificuldade no diagnóstico.
Hoje em Portugal envelhece-se mais tarde mas com menos qualidade de vida quando comparando com o que sucede no norte da Europa, onde as pessoas envelhecem mas com qualidade de vida. Tem a ver com os comportamentos alimentares e de estilo de vida. Porque estamos a ficar tão obesos? Com hipertensão? Com alergias? São respostas que o passado pode dar, mas que nem sempre sabemos interpretar.
Os portugueses exageram na automedicação, especialmente nos antibióticos de modo que o seu efeito começa a falhar em doenças do passado, como a tuberculose, que hoje é uma nova doença devido a esse comportamento.
Os médicos, por sua vez, beneficiam de uma panóplia de ciências e tecnologias complementares a aumentar a sua capacidade de diagnóstico jamais observada. A engenharia, a informática, a física, a matemática, a nanotecnologia, etc., vieram dotar o ensino e investigação médica de meios jamais tidos no passado. Os avanços na genética têm sido usados para prever doenças, mas a ideia que resolve tudo é disparatada. Os médicos têm de voltar a ver os doentes e evitar os sobrediagnósticos que não trazem benefícios para a saúde. Sobrinho Simões deu o exemplo de micro cancros detetados por exames sofisticados no intestino que podem ser deixados porque o paciente não morrerá deles, mas de outra maleita. Com efeito há possibilidades de se ter muita informação, porém sem se saber que uso dela fazer.  
Sobrinho Simões traçou com precisão o quadro do sistema de saúde português que está sobrecarregado nas urgências devido ao comportamento dos portugueses. A rede de cuidados de saúde tem excessivos hospitais, um em cada esquina que fazem de tudo, centros de saúde a menos e a atuação de médicos onde deveria ser de enfermeiros e de outros técnicos de saúde, assistentes sociais, etc. Aliás, disse que temos enfermeiros de grande qualidade, que seriam médicos de qualidade em muitos países. Pois no acompanhamento de muitos casos de doenças seriam os técnicos mais qualificados para isso, mas os portugueses querem sempre um médico e não dispensam umas pastilhas. Automedicam-se e pressionam para os médicos receitarem antibióticos indiscriminadamente (matar a mosca com morteiro).
Garantiu que vamos atingir os 100 anos, tal o avanço da medicina, mas devemos ter comportamentos que levem à qualidade de vida, ou o EA, envelhecimento ativo. Os Estados devem por isso aproveitar esta sabedoria por mais tempo, em vez de dispensar esta força de trabalho precocemente como acontece hoje.
Os médicos têm desafios a vencer nesta nova medicina com novos doentes e novas doenças, regressando ao passado, baseado na Prevenção, no Prognóstico, na Participação (do e com o doente), na Personalização e na Precisão. Doentes e médicos lidam mal com a incerteza e por isso estes devem voltar a debruçar-se sobre os doentes personalizando o diagnóstico e a terapêutica, pois somos o reflexo dos nossos antepassados e dos nossos comportamentos atuais. Podemos estar a pormo-nos a jeito em algumas situações de doença. Por isso, é preciso evitar/prevenir.
Mário Russo
Sobrinho Simões consegue explicar o complexo mundo das ciências médicas de modo que todos entendem, apenas possível a quem de facto sabe muito. É uma pessoa simpática, bem-humorada, bom contador de histórias, muito culto e muito afável que logo à primeira é impossível não nos identificarmos e sentir uma empatia e grande confiança, que normalmente é o segredo dos bons médicos. É demasiado modesto, pois acha que não é importante, quando todos sabemos que é o nosso Ronaldo da Medicina e um orgulho para os portugueses.
Uma sala cheia de pessoas ávidas de saber mais e mais. A conversa poderia durar horas que ninguém arredaria pé da sala tal o interesse com que todos acompanharam a sessão. Parabéns Joaquim Jorge, pois é um inicio de atividade ao mais elevado nível e um bom augúrio para 2015. Sobrinho Simões prometeu que viria de novo ao CdP, pois sente-se bem neste serviço cívico ao povo português.  Já reservei a cadeira.