22/11/2014

Subvenções vitalícias a políticos


Mário Russo
Os políticos portugueses não estão bem vistos junto da opinião pública. É a classe menos credível em Portugal. Certamente que alguns não merecem isto. Aliás, acontece o mesmo em muitos outros países e isso deve merecer uma reflexão profunda. Com efeito, a atividade política deveria ser olhada e sentida pelos cidadãos, responsáveis por eleger, em países democráticos, esses mesmos políticos, com a convicção de que são seus representantes.
No entanto, o que se verifica é que nós os elegemos de facto, porém condicionados a escolher numa lista elaborada por um diretório local que se lá colocar o rato Mickey ele é eleito. Na verdade “somos” obrigados a referendar aquela lista, e não nomes em que confiamos ou acreditamos confiar. Ou seja, estamos reféns dum qualquer diretório de meia dúzia que sequestra os partidos e decide o que quer.
Quem são esses políticos, com raras exceções? São a voz do dono. Estão ali para servir interesses terceiros, de grupos económicos (banca, saúde, construção civil, etc).
Vemos políticos negociar PPP e de seguida saírem para a presidência dessas empresas. Sabemos que banqueiros mandam literalmente no governo, indicando quem deve ser ministro ou secretário de estado da pasta A ou B, ou exigir a demissão de quem estragar a sua estratégia (rendas elétricas excessivas).
É um polvo com tentáculos na sociedade que a manipula. O sistema faliu e quem está a pagar é o povo e vai pagar ainda mais com a falência fraudulenta do BES.  Por isso a austeridade imposta por aqueles que levaram o país e a Europa a esta situação . Os povos continuam a suportar a roubalheira conduzida por políticos irresponsáveis, ladrões, incompetentes e malfeitores. O recente episódio de Luxemburgo, mas a Holanda e Irlanda, paraísos fiscais para empresas que deixam de pagar impostos nos seus países devido a manobras escandalosas que uma União Europeia é permissiva ou conivente com o roubo, porque deste modo sobra para os povos onde as empresas estão a operar, para pagar o que elas não pagam. Um escândalo que só um cego não vê.
Os paraísos fiscais e offshores que servem para legalizar os roubos continuam como se nada tivesse acontecido. A forma como é feita a contabilidade das empresas baseada em ciências ocultas, para esconder roubos. Tudo com o beneplácito deste paquiderme chamado UE.
Esta falência generalizada que bate palmas ao desemprego e à austeridade imposta aos povos é responsável pela desesperança de milhares de jovens que vivem nas periferias das cidades europeias, que estudaram e estão sem emprego, sendo pasto fácil para o recrutamento por extremistas. Um cegueira política não perceber os sinais.
Num quadro destes fiquei estarrecido com a proposta conjunta PSD-PS das subvenções vitalícias a políticos. Como é que há coragem de fazer uma proposta de reposição da subvenção vitalícia aos políticos que não estão no ativo?  Não consigo compreender como é possível tanta “lata e desfaçatez“ quando o tamanho da ferida aberta entre eleitos e leitores é evidente. Revela um desprezo tão grande pelo povo que dizem representar que não há classificação possível para a proposta feita pelos elefantes em loja de porcelana.
Mas ainda mais me espanta como é que o PS, que tem novo líder, se deixar enredar numa proposta indecorosa e até odiosa.