20/08/2014

Entrevista ao Valadares em Foco que não chegou a ser publicada


                                       É preciso uma opinião pública interventiva


Joaquim Jorge falou ao Valadares em Foco. Bem-disposto, afável, sempre critico e nunca deixando de dizer o que pensa. Já recebeu imensas personalidades da política , como o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e o líder do PS , António José Seguro ( até ver).
Acha que temos que exigir participar mais activamente nas decisões políticas na vida política nacional e local. Muitas decisões são tomadas e muitos cidadãos não estão de acordo, e nem foram ouvidos nem achados.


Valadares em Foco (VF) - Dá-se bem em pensar e reflectir?
Joaquim Jorge (JJ) – Não. Pensar só dá chatices. O melhor é viver a leste de tudo. Provoca insubordinação e contestação. O pensamento é uma arma pacífica mas incomoda muito. Os políticos confundem emitir opiniões que não vão de encontro às suas como ataques pessoais. Mas não deixarei de estar atento vigilante no que se faz a nível nacional e local nomeadamente em Gaia. Não devo nada a ninguém e actuarei sempre segundo a minha consciência.
VF – A democracia precisa de ser reinventada?
JJ – O sistema político é muito hermético, muito pouco permeável. Os partidos e as suas instituições são muito pouco flexíveis para incorporar a voz da cidadania que temos que exigir participar mais activamente nas decisões políticas nacionais e locais. Votar não chega. Temos que votar e seguir o caminho em quem votamos. Que decisões tomam, o que fazem, o que deveriam fazer, etc.
VF – E, o poder local?
JJ – O poder local tem que ser também reinventado e reformado. Há 308 Câmaras Municipais e ainda 3.092 Freguesias. É muita coisa num país tão pequeno. Repare que se fundiram freguesias mas não se tocou nas Câmaras. A reforma administrativa local foi um flop ao pensar-se que se iria poupar muito dinheiro. Foi mal feita e executada. Extingue-se centros de saúde, escolas, etc. Porque não se extingue para além de freguesias, câmaras? Não entendo. Por outro lado ao agrupar freguesias, essa nova freguesia agrupada tem mais número de habitantes e tem que se pagar mais a quem a dirige pela lei em vigor. O poder local parece uma vaca sagrada em que não se toca. Todavia tem contribuído para o aumento do défice de forma incomensurável. O poder local a mim faz-me lembrar, mordomias a mais, gente a mais, carros a mais, cartões de crédito a mais, etc. No fundo, despesa a mais. Veja-se o seu endividamento em grande parte das autarquias portuguesas
VF – Tem sustentado em vários artigos de opinião que os cidadãos cada vez acreditam menos nos políticos. Porque há razões para isso?
JJ – É preciso adequar a política às novas realidades e necessidades. É preciso uma revolução pacífica de ideias, comportamentos e atitudes, com uma opinião pública interventiva e inteligente. É preciso políticas baratas. A política e a democracia ficam muito caras ao erário público, no fundo a todos nós, portugueses. Exigir o exemplo dos políticos nos sacrifícios que exigem aos cidadãos.
VF - Refere também que: “ esta saturação e insurgência para com os partidos e políticos além de levar à indiferença pode levar à ruptura do sistema”. Não está a ser catastrofista?
JJ - Acha? Não ouve as pessoas na rua? Os políticos só vão para a rua quando precisam de votos, mas estão errados. Governar é ouvir mais do que falar. Parece-me catastrofista é os políticos fazerem ouvidos de marcador e ignorarem os sinais que os cidadãos lhes têm dado.
VF - Considera-se um activista cívico?
JJ - Considero-me uma pessoa inconformada que detesta injustiças e se isso é ser inconformado ou activista acho que sim. O clube é uma nova forma de activismo cívico, com toda a certeza.
VF - Quer mudar a forma como os portugueses vêem a política?
JJ - Claro, eu procuro aproximar a política dos cidadãos e os cidadãos da política. Porque quando eles vão ao Clube dos Pensadores  não há protocolo, não há perguntas prévias, e, portanto, estão sujeitos a tudo. Eu admiro os convidados, ouvem aquilo que às vezes não querem ouvir. Mas ficam com a noção do país real.
VF - Acha que o papel do Clube dos Pensadores já faz a diferença?
JJ - Fica-me mal a mim ser presunçoso. Agora, uma pessoa que fez 82 debates com uma média de 200 pessoas a assistir … Em que eu não posso dar nada, eu não dou cargos, não dou lugares, o que é que eu dou? Permito às pessoas dizerem o que lhes vai na alma, darem a sua opinião. As pessoas ficam aliviadas ter alguém que as ouça.
VF - Porque é que as pessoas vão ao Clube dos Pensadores ?
JJ - Muitos vão para aprenderem, trocar ideias e opiniões, porque gostam deste tipo de intervenção, do Joaquim Jorge, do convidado. Mas também vão para aparecer na televisão, sacar uns telefones, meter cunhas, está na moda, é importante dizerem-se amigos de Joaquim Jorge, quer dizer…
VF - Os cidadãos, que não se interessam muito…

JJ- Os cidadãos têm o que merecem. Eu procuro ter o que mereço.
VF - Então, são um bocado culpados…
JJ- Claro, eu sou  uma pessoa mal vista, com mau feitio, porque digo não e chamo a atenção do que está mal. Isso é uma qualidade, mas para quem é poder não gostam nada. Paciência, é a vida…
VF – O que me diz sobre o executivo em Gaia? Tem escrito no PT Jornal (jornal online), no seu blogue e no Facebook opiniões a pôr em causa várias decisões de Eduardo Vítor Rodrigues.
JJ – Ultimamente perguntam-me sempre isso! Na altura própria e certa dei a minha opinião e discordei de algumas decisões. Está lá a minha opinião, não vou repisar esse assunto.
VF - Mas não é amigo do presidente?
JJ – Homessa! Essa agora! Por ser amigo de uma pessoa não deixo de lhe dizer o que penso. Ser amigo não é estar sempre de acordo. Ser amigo é exactamente, o contrário, é dizer as verdades para esse amigo melhorar e se modificar. Fazia-o com Luís Filipe Menezes, faço com este presidente e de quem sou amigo. Mas faço-o com lealdade, respeito e com argumentos. Sempre a pensar no melhor para Gaia. 
VF – Porque não lhe diz isso directamente?
JJ – Nem sempre me está para ouvir e atende o telefone… é uma pessoa muito ocupada, não tenho oportunidade. Antes das eleições era mais fácil falarmos…
VF- Diga, diga…
JJ - Vamos ver se nos entendemos eu não sou opositor desta CM Gaia, essa função compete à oposição que não existe ou sabe-se pouco o que tem feito. Eu limito-me a analisar e comentar. Há coisas que se têm feito na CM Gaia que eu concordo outras não.
VF – Pensa, um dia concorrer à CM Gaia?
JJ – ( sorriso). Não sei, vamos ver, depende de várias circunstâncias e se reunirem determinados pressupostos.
VF – Quer deixar um pensamento?
JJ – Uma vez no poder é preciso estar particularmente atentos àquilo que fazemos e também ao que pensamos. Quando se é presidente, vereador, etc., é-se escoltado, honrado, rodeado de todo o tipo de atenções, a sua influência é grande. Há políticos que antes de serem eleitos têm intenções perfeitamente puras. Mas, uma vez, em funções, tornam-se uns convencidos e deslumbrados e esquecem-se do que prometeram e nos seus objectivos iniciais. Acham que podem fazer tudo o que querem, sem que ninguém tenha nada a dizer. Alegam que a dedicação com que cumprem a sua tarefa, mesmo que se enganem e errem acham que não é grave.

nota: Joaquim Jorge ( JJ)  é colaborador há vários anos do Valadares em Foco ( VF) e amigo pessoal do seu director Armindo Costa. Este jornal do Litoral de Gaia , marcadamente regional e bimensal merece-nos todo o respeito e apreço, como os melhores meios de comunicação social onde são publicadas noticias do CdP: televisões nacionais ( RTP; SIC; TVI) , rádios ( TSF; RR , Antena 1), jornais( JN, CM , Expresso, Sol , etc.), e também, onde são publicados os seus textos: Público; DN; PT Jornal; Textos citados no site da Sapo; Jornal Audiência; Maia Hoje; Farol da Nossa Terra ; etc. Todos os anos por altura do Verão é habitual publicar uma entrevista ao nosso fundador Joaquim Jorge em jeito de balanço e para compensar a não saída de noticias do Clube dos Pensadores ao longo do ano. Este ano lamentavelmente a entrevista não foi publicada, alegando que já tinha sido publicada anteriormente. Fomos analisar cuidadosamente os e-mails e nada consta. O esboço desta entrevista foi enviado em Junho de 2014. Anteriormente foi enviado um press release sobre o aniversário do Clube pelos seus 8 anos, nada tem que ver com a referida entrevista, também constatamos  que não têm saído os seus artigos de opinião durante este ano de 2014. Um deles referente ao funcionamento da CM Gaia intitulado , " A Forma de Actuar da CM Gaia". Muita gente alertou JJ ,sendo seus fiéis leitores e seguidores que há muito tempo não saiam as suas habituais crónicas, pensando que JJ deixou de escrever no VF ou algo se passou. Lamentamos o sucedido e esperamos que não haja no meio disto tudo censura ou medo do poder vigente. Coincidência ou não o presidente da CM Gaia vai dar uma entrevista ao VF, tendo sido até adiada. Não queremos acreditar que haja interferências e tentar calar a voz e escrita de JJ, nunca tal aconteceu com Luís Filipe Menezes. Nesta edição saiu o seu habitual artigo de opinião, mas a entrevista não, deste modo está disponível no nosso blogue para conhecimento geral.