21/12/2014

Carta aberta a Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores

                                                                                                                            
                                                                                                                         27/08/2014

Caro Joaquim Jorge,

Neste país há a mania de marcar o andamento de uma pessoa. De facto, a sociedade e quem a dirige diz-te que caminho tens que seguir, como tu deves actuar, onde ir, os restaurantes da moda ou discotecas in, para onde ir de férias, como te deves vestir, como deves pensar e em quem deves votar. O teu gosto não é para aqui chamado, deves seguir à risca o estipulado socialmente Há normas e costumes que se devem acatar de forma resignada, amorfa e insípida. Se não o fizeres és um herege e um alvo a abater. O teu maior problema foi fundares o Clube dos Pensadores e fazeres debates da forma como os fazes, pois há muito tempo que há debates para todos os gostos, mas não como os teus.
Porém, a forma como os fazes, os conduzes, quem convidas marca a diferença e faz escola. Os teus debates têm emoção, um pouco de magia e são únicos.
Por isso quando alguém é diferente, sai do normal e segue em contracorrente começa por surpreender, chega a desagradar e depois como não conseguem modificá-lo começam a prestar-lhe atenção porque pode revoltar-se contra o que está estabelecido, contra o que está imposto. Mais ainda, quando tem imensos seguidores e gente que gosta da maneira de ser e actuar. Há os que te apoiam e os que te criticam. Dizem à boca cheia e de forma maliciosa: «Esse alguma coisa quer!», «O que é que o tipo quer?», «Já lhe devem ter oferecido alguma coisa.»
Outros perturbam-se porque lhes descobres as suas misérias, as suas indolências e os seus cambalachos. Deste modo tentam destruir-te. Fazes o que fazes para chamar à atenção, ter protagonismo, ser mediático. Isto é, actuas para ter popularidade, e manter-se na crista da onda, para ser reconhecido e premiado.
Todavia há muita gente que te aceita e aprova o que tu fazes, não só pelos debates mas pelas tuas intervenções públicas, pela escrita e comentário. A degradação humana, a inveja e o ciúme confundem-se com alguém que procura fazer cidadania e que acredita no que faz, procura fazê-lo e presta um serviço público gratuito e não procura prebendas de espécie nenhuma.
Fazer o que fazes não tem nada de extraordinário, é um dever e um privilégio que muita gente não o pode fazer. No fundo algo que é absolutamente normal e natural mas que Adolfo Suárez definiu como ser preciso, «elevar à categoria de normal o que é normal».
O problema é que há muita gente que não aceita que tu sejas apenas tu mesmo, que o teu copo pode ser pequeno mas é só dele que bebes, que tu estabeleças os teus objectivos segundo as tuas preferências e prioridades, que tenhas o pernicioso vírus da independência e que por si sejas um grão de areia na engrenagem que chateia toda a gente.
Não funcionas por cargos ou benesses e não pensas partidariamente. Porém tens direito a existir e existes.
O teu nível de responsabilização e comprometimento é com a cidadania e os cidadãos e isso não passa por ter que ir a votos.
Há gente que está nisto contigo tão-só conjunturalmente, mas há outros que são mesmo amigos de verdade. Nunca olhaste a amizade como ter benefício ou fazer negócio.
Há gente que te odeia e não te suporta. Sem tu saberes o porquê? Mas há muito mais gente que gosta de ti e estão predispostos a ajudar-te.
Segundo Ulrich Beck, «esta crise não se superará sem a iniciativa dos cidadãos».
 E eu acrescento que o futuro passa inevitavelmente pela cidadania».
Aceita os meus cumprimentos.
Disse,

JJ
*Numa de introspecção escrevi uma carta a mim próprio, de Joaquim Jorge para Joaquim Jorge