18/06/2014

A Aula Magna de Marcelo Rebelo de Sousa no Clube dos Pensadores



Marcelo Rebelo de Sousa é uma personalidade portuguesa que dispensa apresentações. Ainda assim, como é habitual, Joaquim Jorge fez uma breve súmula biográfica do convidado que fecha o ciclo de debates de 2013/14. Uma rica síntese em que enaltece a sua trajetória grandiosa e as suas qualidades e virtualidades.
Marcelo é daquelas pessoas que tem uma áurea. Antes do debate, numa sala mais que esgotada, num record de participantes, foi presenteado com um jantar de boas vindas onde algumas dezenas de membros do CdP e convidados se fizeram representar. Logo ali Marcelo revelou a sua bonomia, a sua simpatia para com os presentes. É afável, comunicador nato, bom contador de histórias, bom humor, sagaz, inteligente, refinado, crente em Deus.
Iniciou o debate dizendo que combinou com JJ tudo menos do que iria falar. Pelo que começou por fazer uma retrospetiva da sua própria vida e o que dela retirou como experiência para a posteridade. Desde os tempos da escola primária, ao liceu e universidade. Referiu que foi feliz e teve a fortuna de ter nascido no seio de uma família que lhe proporcionou uma educação esmerada, com valores. E, apesar do direito à igualdade de todos à nascença, nem todos tem essa fortuna e logo ali se estabelecem caminhos diversos para as pessoas. Umas talentosas não conseguem atingir o topo porque lhes faltou essa fortuna. Enalteceu os valores que os agentes educativos tiveram na sua educação, estando à frente a escola, a família, a igreja. Hoje, os agentes educativos são a internet e a TV, só depois vindo a escola, a família e a igreja, com reduzida influência. Tudo mudou nas últimas décadas e nem tudo para melhor, mas é o mundo em que vivemos.
Para Marcelo Rebelo de Sousa a Educação é a chave do sucesso de uma nação e a sua grande aposta (coisa que este Governo tem desinvestido, porque diz haver licenciados a mais, estranhamente…) . Aliás, a única coisa que sempre quis ser foi Professor, como é, um Catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, com nota final brilhante. Todos os outros cargos e até profissões que teve, foram consequência de ser Professor. Mesmo a política foi essa extensão, seja como Ministro, Secretário de Estado, líder do Partido, jornalista, comentador, etc.
Não tem obsessão de ser Presidente da República, como outros terão. Instado, mais que uma vez, a afirmar-se ou não como candidato, refugiou-se sempre que não é necessariamente o que o seu espírito analítico lhe recomenda. Apesar disso não faz a afirmação que um dia fez, antes de ser Presidente do PSD, que nem que Jesus Cristo descesse à Terra… para não morrer pela boca como o peixe. Algumas pessoas regozijaram-se por não ser candidato, porque como comentador é muito eficaz e necessário a Portugal, dado que o PR não tem poder nenhum.
Obviamente que não percebo este desejo de algumas pessoas. Penso que só é possível por desconhecimento do valor do cargo ou por confundirem que um PR terá necessariamente de ser um Cavaco Silva, uma eminência parda. Um PR, mesmo na atual Constituição Portuguesa, tem real influência sobre os destinos do país, ao passo que como comentador, pese embora as “bordoadas” contundentes que dá, de vez em quando, não deixa mossa no sistema político que vivemos.
Também recusou a ideia que é uma reserva da nação, mas no conforto do sofá. Na verdade Marcelo é um político que tem o apreço dos portugueses de um modo geral e é uma personalidade em quem confiam, exatamente ao contrário do que acontece com a generalidade da classe política cuja credibilidade é zero. O país precisa em quem possa depositar a sua confiança e ganhar auto estima e Marcelo Rebelo de Sousa poderia ser essa personalidade.
Sobre António Costa (AC) disse que o povo português vê-o com ar messiânico, ao contrário de Seguro, que é afável, mas não é líder, revelado (para quem pudesse ter dúvidas que o fosse) quando ao ser desafiado fez o teatro que se lhe conhece e atirou para setembro umas Primárias que ele sabe que os estatutos que ele blindou não o permite. JJ referiu que AC colou-se a Sócrates e que isso é fatal porque os portugueses ainda não se esqueceram desta personalidade sinistra. Marcelo acha que não terá importância, dado o caráter sebastianista dos portugueses, que vêm em AC a salvação.
Do Governo de PPC, que reconhece ser um líder teimoso (umas vezes a teimosia é uma qualidade, mas outras um defeito, que eu diria, uma burrice) que não ouve ninguém e que nunca soube gerir bem a comunicação de um conjunto de dossiers, mas nem assim o líder do PS se aproveitou desses tiros no pé que a miude PPC dava. Criticou PPC tecer comentários desapropriados quanto à forma de escolha dos juízes do TC, que é um tribunal político, pois zela pela mais política das leis, a Constituição.
Para MRS o consenso entre os Partidos seria, por exemplo, todos acordarem em que não mentiriam aos portugueses como tem acontecido. Todos os Partidos deveriam afirmar que em campanha jamais prometeriam coisas que sabiam não poder cumprir. Eu diria que este compromisso é algo elementar entre pessoas sérias, coisa que há muito os portugueses não sabem o que é da parte dos políticos, que são mentirosos. Em países onde há honra na prática política, demitiam-se antes por vergonha. Em Portugal, pelos vistos, é carreira ser mentiroso compulsivo.
Esclareceu que foi contra a Regionalização proposta em referendo, que ele como líder da oposição conseguiu impor à maioria. Ele era favorável às Regiões Plano e não à trapalhada que Guterres propôs. Vaticina que após sair da crise, o país volte a discutir o tema.
JJ mostrou-se cansado e, ao contrário do desejo das centenas de pessoas que acorreram ao debate e do próprio convidado que se disponibilizou para ficar até à uma da manhã, deu por encerrado o debate para tristeza de muitos participantes.
A classe do candidato é tão elevada que o fundador e animador do CdP disse que com este debate o Clube deveria encerrar as suas atividades porque atingiu o apogeu. Só que JJ está enganado, a cada fasquia que ultrapassa, outra se lhe coloca mais alta. O CdP faz um serviço à nação ao organizar a excelência dos debates livres e não-alinhados, que não pode se dar ao luxo de encerrar.
Mário Russo
Uma noite de estrelas a fechar com chave de ouro o ciclo de debates. Parabéns Joaquim Jorge pelo convidado que nos trouxeste para o debate. Melhor, impossível, se assim se pode dizer.