24/05/2014

Uma ausência reveladora


Miguel Mota 
Durante algumas décadas clamaram que a agricultura não tinha qualquer possibilidade de existir em Portugal, por não ser competitiva, e o que ainda restava dela era para acabar. Não sei se isso era fruto duma monumental ignorância generalizada ou se era uma criminosa acção de lesa economia, em favor dos que ganhavam fortunas a importar produtos agrícolas. Nessa base, os governos e algumas entidades tudo fizeram no sentido de destruir a agricultura. O máximo dessa destruição ocorreu durante o governo socialista de Sócrates que, como mais de uma vez lembrei e convém não esquecer, devolveu a Bruxelas centos de milhões de euros destinados à agricultura portuguesa. Os prejuízos para o país foram astronómicos, no PIB, no desemprego e na balança comercial.
Com o actual governo e a ministra Cristas, cessou essa ideia errada e passaram a ouvir-se, de todos os lados, os maiores elogios sobre a importância da agricultura para a economia nacional. Com algumas medidas correctas, a produção e a exportação de produtos agrícolas aumentaram significativamente.
Durante décadas, Portugal andou a destruir toda a investigação científica pública que não fosse das universidades, algo que já causou ao país prejuízos também astronómicos, na economia e na ciência, em variados sectores, entre eles a agricultura. (Como Professor Catedrático, 
jubilado, sinto-me insultado por tão prejudicial prova de mediocridade e inveja). Infelizmente, com o actual governo, essa destruição não cessou e continuou com grande intensidade. O que Portugal tem hoje, em diferentes sectores, é residual, em relação ao que tinha há 40 anos.

De colaboração entre um banco e dois jornais  (ambos do mesmo dono), vão realizar-se amanhã em Évora (escrevo em 13-5-2014; já deve ter ocorrido quando este texto for publicado) umas Jornadas de “Empreendedorismo Agrícola” “Cultivar o futuro”. É uma excelente iniciativa e o programa é interessante, incluindo conferências por personalidades de organismos oficiais e entidades privadas. Noto ali uma ausência que reputo grave e, dados os antecedentes que descrevi, pode fazer parte da destruição em marcha. Não está no programa nenhum orador da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP, hoje com outro nome), de Elvas, um prestigiado organismo de investigação agronómica do Ministério da Agricultura, que já deu à agricultura do Alentejo fortunas enormes, com as variedades ali produzidas. Como uma das formas de destruir algo é evitar a sua presença, e até que se fale dele, fico na dúvida, sem saber se a ausência nas Jornadas não teve um tal objectivo. Mas sei que, com a investigação do Ministério da Agricultura destruída, a agricultura terá o seu desenvolvimento drasticamente limitado.