26/05/2014

A podridão do sistema político português revelou-se nestas eleições


Mário Russo
Escrevo estas breves linhas com base nos resultados quase definitivos das eleições ao Parlamento Europeu. Confirma-se a derrota do PPD/CDS e do BE, mas a grande vitória é de Marinho e Pinto, que sem meios, consegue eleger-se e provavelmente ao nº 2. O Partido por que se candidatou conseguiu aumentar  mil por cento o seu valor eleitoral, que configura inequivocamente uma vitória pessoal do ex-bastonário da Ordem dos Advogados. Mas isso não é apenas a maior vitória destas eleições, porque de facto indicia o desagrado, desencanto  e até desprezo do povo  pela política e, sobretudo pelos políticos que temos. Acontece um pouco pela Europa com a Direita radical a assomar-se como força política, impensável há alguns anos atrás.
Em Portugal emerge outro grande derrotado, o BE, que nada me surpreende, pois já tinha vaticinado a morte lenta deste partido, desde que Francisco Louçã deixou o presente envenenado de uma liderança bicéfala. Só não sei se não o fez de propósito. O PS também sai derrotado, porque as maldades feitas pelo Governo repercutem-se no índice de rejeição dos Partidos do governo que o PS não capitaliza devido à sua fraca e débil liderança.
O outro vencedor, que é uma derrota para os partidos políticos, foi a abstenção histórica. Pena que não haja ilações deste verdadeiro divórcio entre políticos e o eleitorado.
A Aliança Portugal, ou melhor, o Governo Português, é um dos outros grandes derrotados. A arrogância e a desfaçatez com que veio a terreiro tentar iludir o eleitorado, agitando o fantasma de Sócrates, não lembra ao diabo. O Povo que foi às urnas deu a resposta a isso tudo, penalizando-o e votando, sobretudo em alguém anti-sistema, Marinho e Pinto e não dando crédito por aí além ao PS, que seria o tributário natural do descontentamento pela governação.
O PS não pode ficar contente com este resultado, pois indicia que a continuar como está a liderança, vai perder as legislativas, bastando que a economia internacional confirme o crescimento que as agências vaticinam. António José Seguro ainda não percebeu que a sua imagem não cola com competência, liderança, credibilidade e por isso, deveria demitir-se da liderança, abrindo caminho a quem possa incorporar um projeto vencedor.
Com efeito, só uma revolução na liderança PS pode alterar este quadro que se está a pintar no horizonte próximo da política portuguesa.
Porém, todos os políticos deveriam debruçar-se sobre os resultados e extrair consequências do seu próprio comportamento que o povo reprovou inequivocamente.
Um sistema político caduco e sem qualquer crédito emergiu destas eleições. Urge a sociedade civil avançar para defender a democracia e a liberdade, sob pena dos populistas, tipo Marine Le Pen, ocuparem o palco e determinar o rumo da política europeia na senda do radicalismo xenófobo e racista.